quinta-feira, 29 de outubro de 2009


A Carta
Pero Vaz de Caminha
Senhor,
posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado.
E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:
E digo quê: A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.
Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser !
Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais !
E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera
Cruz! Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças -- até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas.
Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos.
E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas,
com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa
do mar.
À noite seguinte ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus. E especialmente a Capitaina. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar ancoras e fazer vela. E fomos de longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados
na popa, em direção norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nós ficássemos, para tomar água e lenha. Não por nos já minguar, mas por nos prevenirmos aqui. E quando fizemos vela estariam já na praia assentados perto do rio obra de sessenta ou setenta homens que se haviam
juntado ali aos poucos. Fomos ao longo, e mandou o Capitão aos navios pequenos que fossem mais chegados à terra e, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem.
E velejando nós pela costa, na distância de dez léguas do sítio onde tínhamos levantado ferro, acharam os ditos navios pequenos um recife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada. E meteram-se dentro e amainaram. E as naus foram-se chegando, atrás deles. E um
pouco antes de sol-pôsto amainaram também, talvez a uma légua do recife, e ancoraram a onze braças.
E estando Afonso Lopez, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos, foi, por mandado do Capitão, por ser homem vivo e destro para isso, meter-se logo no esquife a sondar o porto dentro. E tomou dois daqueles homens da terra que estavam numa almadia: mancebos e de bons corpos. Um deles trazia um arco, e seis ou sete setas. E na praia andavam muitos com seus arcos e setas; mas não
os aproveitou. Logo, já de noite, levou-os à Capitaina, onde foram recebidos com muito prazer e festa.
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.
Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura
de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.
Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do que sobre-pente, de boa grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira, de penas de ave amarela, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por pena, com uma confeição branda como, de maneira tal que a cabeleira era mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.
O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com ele íamos, sentados no chão, nessa
alcatifa. Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!
Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali.
Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.
Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados.
Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.
Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora.
Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo.
Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que lho não havíamos de dar! E depois tornou as contas a quem lhas dera. E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem
maneiras de encobrir suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas.
O Capitão mandou pôr por baixo da cabeça de cada um seu coxim; e o da cabeleira esforçava-se por não a estragar. E deitaram um manto por cima deles; e consentindo, aconchegaram-se e adormeceram.
Sábado pela manhã mandou o Capitão fazer vela, fomos demandar a entrada, a qual era mui larga e tinha seis a sete braças de fundo. E entraram todas as naus dentro, e ancoraram em cinco ou seis braças -- ancoradouro que é tão grande e tão formoso de dentro, e tão seguro que podem ficar nele mais de
duzentos navios e naus. E tanto que as naus foram distribuídas e ancoradas, vieram os capitães todos a esta nau do Capitão-mor. E daqui mandou o Capitão que Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias fossem em terra e levassem aqueles dois homens, e os deixassem ir com seu arco e setas, aos quais mandou
dar a cada um uma camisa nova e uma carapuça vermelha e um rosário de contas brancas de osso, que foram levando nos braços, e um cascavel e uma campainha. E mandou com eles, para lá ficar, um mancebo degredado, criado de dom João Telo, de nome Afonso Ribeiro, para lá andar com eles e
saber de seu viver e maneiras. E a mim mandou que fosse com Nicolau Coelho. Fomos assim de frecha direitos à praia. Ali acudiram logo perto de duzentos

homens, todos nus, com arcos e setas nas mãos. Aqueles que nós levamos acenaram-lhes que se afastassem e depusessem os arcos. E eles os
depuseram. Mas não se afastaram muito. E mal tinham pousado seus arcos quando saíram os que nós levávamos, e o mancebo degredado com eles. E saídos não pararam mais; nem esperavam um pelo outro, mas antes corriam a quem mais correria. E passaram um rio que aí corre, de água doce, de muita
água que lhes dava pela braga. E muitos outros com eles. E foram assim correndo para além do rio entre umas moitas de palmeiras onde estavam outros. E ali pararam. E naquilo tinha ido o degredado com um homem que, logo ao sair do batel, o agasalhou e levou até lá. Mas logo o tornaram a nós. E
com ele vieram os outros que nós leváramos, os quais vinham já nus e sem carapuças.
E então se começaram de chegar muitos; e entravam pela beira do mar para os batéis, até que mais não podiam. E traziam cabaças d'água, e tomavam alguns barris que nós levávamos e enchiam-nos de água e traziam-nos aos batéis. Não que eles de todo chegassem a bordo do batel. Mas junto a ele, lançavamnos
da mão. E nós tomávamo-los. E pediam que lhes dessem alguma coisa.
Levava Nicolau Coelho cascavéis e manilhas. E a uns dava um cascavel, e a outros uma manilha, de maneira que com aquela encarna quase que nos queriam dar a mão. Davam-nos daqueles arcos e setas em troca de sombreiros e carapuças de linho, e de qualquer coisa que a gente lhes queria dar.
Dali se partiram os outros, dois mancebos, que não os vimos mais.
Dos que ali andavam, muitos -- quase a maior parte --traziam aqueles bicos de osso nos beiços.
E alguns, que andavam sem eles, traziam os beiços furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha. E alguns deles traziam três daqueles bicos, a saber um no meio, e os dois nos cabos.
E andavam lá outros, quartejados de cores, a saber metade deles da sua própria cor, e metade de tintura preta, um tanto azulada; e outros quartejados d'escaques.
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.
Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbana deles ser tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém. Acenamos-lhes que se fossem. E assim o fizeram e passaram-se para além do rio. E saíram três ou quatro homens nossos dos batéis, e encheram não sei quantos barris
d'água que nós levávamos. E tornamo-nos às naus. E quando assim vínhamos, acenaram-nos que
voltássemos. Voltamos, e eles mandaram o degredado e não quiseram que ficasse lá com eles, o qual levava uma bacia pequena e duas ou três carapuças vermelhas para lá as dar ao senhor, se o lá houvesse. Não trataram de lhe tirar coisa alguma, antes mandaram-no com tudo. Mas então Bartolomeu Dias o fez outra vez tornar, que lhe desse aquilo. E ele tornou e deu aquilo, em vista de
nós, a aquele que o da primeira agasalhara. E então veio-se, e nós levamo-lo.
Esse que o agasalhou era já de idade, e andava por galanteria, cheio de penas, pegadas pelo corpo, que
parecia seteado como São Sebastião. Outros traziam carapuças de penas amarelas; e outros, de vermelhas; e outros de verdes. E uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima, daquela tintura e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha tão graciosa que a muitas mulheres de nossa
terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela. Nenhum deles era fanado, mas todos assim como nós. E com isto nos tornamos, e eles foram-se. À tarde saiu o Capitão-mor em seu batel com todos nós outros capitães das naus em seus batéis a folgar pela baía, perto da praia. Mas ninguém saiu em terra, por o Capitão o não querer, apesar de
ninguém estar nela. Apenas saiu -- ele com todos nós -- em um ilhéu grande que está na baía, o qual, aquando baixamar, fica mui vazio. Com tudo está de todas as partes cercado de água, de sorte que ninguém lá pode ir, a não ser de barco ou a nado. Ali folgou ele, e todos nós, bem uma hora e meia. E
pescaram lá, andando alguns marinheiros com um chinchorro; e mataram peixe miúdo, não muito. E depois volvemo-nos às naus, já bem noite.
Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós
outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer,foi ouvida por todos com muito prazer e devoção.
Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.
Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e
fez muita devoção.
Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-semuitos deles e tangeram
corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias -- duas ou três que lá tinham -- as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só
até onde podiam tomar pé.
Acabada a pregação encaminhou-se o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta.
Embarcamos e fomos indo todos em direção à terra para passarmos ao longo por onde eles estavam, indo na dianteira, por ordem do Capitão, Bartolomeu Dias em seu esquife, com um pau de uma almadia que lhes o mar levara, para o entregar a eles. E nós todos trás dele, a distância de um tiro de pedra.
Como viram o esquife de Bartolomeu Dias, chegaram-se logo todos à água, metendo-se nela até onde mais podiam. Acenaram-lhes que pousassem os arcos e muitos deles os iam logo pôr em terra; e outros não os punham.
Andava lá um que falava muito aos outros, que se afastassem. Mas não já que a mim me parecesse que lhe tinham respeito ou medo. Este que os assim andava afastando trazia seu arco e setas. Estava tinto de tintura vermelha pelos peitos e costas e pelos quadris, coxas e pernas até baixo, mas os vazios com
a barriga e estômago eram de sua própria cor. E a tintura era tão vermelha que a água lha não comia nem desfazia. Antes, quando saía da água, era mais vermelho. Saiu um homem do esquife de Bartolomeu Dias e andava no meio deles, sem implicarem nada com ele, e muito menos ainda pensavam em fazer-lhe mal. Apenas lhe davam cabaças d'água; e acenavam aos do esquife que
saíssem em terra. Com isto se volveu Bartolomeu Dias ao Capitão. E viemo-nos às naus, a comer, tangendo trombetas e gaitas, sem os mais constranger. E eles tornaram-se a sentar na praia, e assim por então ficaram.
Neste ilhéu, onde fomos ouvir missa e sermão, espraia muito a água e descobre muita areia e muito cascalho. Enquanto lá estávamos foram alguns buscar marisco e não no acharam. Mas acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande e muito grosso; que em nenhum
tempo o vi tamanho. Também acharam cascas de berbigões e de amêijoas, mas não toparam com nenhuma peça inteira. E depois de termos comido vieram logo todos os capitães a esta nau, por ordem do Capitão-mor, com os quais ele se aportou; e eu na companhia. E perguntou a todos se nos parecia
bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio dos mantimentos, para a melhor mandar descobrir e saber dela mais do que nós podíamos saber, por irmos na nossa viagem.
E entre muitas falas que sobre o caso se fizeram foi dito, por todos ou a maior parte, que seria muito bem. E nisto concordaram. E logo que a resolução foi tomada, perguntou mais,se seria bem tomar aqui por força um par destes homens para os mandar a Vossa Alteza, deixando aqui em lugar deles
outros dois destes degredados.
E concordaram em que não era necessário tomar por força homens, porque costume era dos que assim à força levavam para alguma parte dizerem que há de tudo quanto lhes perguntam; e que melhor e muito melhor informação da terra dariam dois homens desses degredados que aqui deixássemos do
que eles dariam se os levassem por ser gente que ninguém entende. Nem eles cedo aprenderiam a falar para o saberem tão bem dizer que muito melhor estoutros o não digam quando cá Vossa Alteza mandar.
E que portanto não cuidássemos de aqui por força tomar ninguém, nem fazer escândalo; mas sim, para os de todo amansar e apaziguar, unicamente de deixar aqui os dois degredados quando daqui partíssemos.
E assim ficou determinado por parecer melhor a todos.
Acabado isto, disse o Capitão que fôssemos nos batéis em terra. E ver-se-ia bem, quejando era o rio. Mas também para folgarmos.
Fomos todos nos batéis em terra, armados; e a bandeira conosco. Eles andavam ali na praia, à boca do rio, para onde nós íamos; e, antes que chegássemos, pelo ensino que dantes tinham, puseram todos os arcos, e acenaram que saíssemos. Mas, tanto que os batéis puseram as proas em terra, passaram-se
logo todos além do rio, o qual não é mais ancho que um jogo de mancal. E tanto que desembarcamos, alguns dos nossos passaram logo o rio, e meteram-se entre eles. E alguns aguardavam; e outros se
afastavam. Com tudo, a coisa era de maneira que todos andavam misturados. Eles davam desses arcos com suas setas por sombreiros e carapuças de linho, e por qualquer coisa que lhes davam. Passaram além tantos dos nossos e andaram assim misturados com eles, que eles se esquivavam, e afastavam-se;
e iam alguns para cima, onde outros estavam. E então o Capitão fez que o tomassem ao colo dois homens e passou o rio, e fez tornar a todos. A gente que ali estava não seria mais que aquela do costume. Mas logo que o Capitão chamou todos para trás, alguns se chegaram a ele, não por o
reconhecerem por Senhor, mas porque a gente, nossa, já passava para aquém do rio. Ali falavam e traziam muitos arcos e continhas, daquelas já ditas, e resgatavam-nas por qualquer coisa, de tal maneira que os nossos levavam dali para as naus muitos arcos, e setas e contas. E então tornou-se o Capitão para aquém do rio. E logo acudiram muitos à beira dele.
Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a
nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.
Também andava lá outra mulher, nova, com um menino ou menina, atado com um pano aos peitos, de modo que não se lhe viam senão as perninhas. Mas nas pernas da mãe, e no resto, não havia pano algum.
Em seguida o Capitão foi subindo ao longo do rio, que corre rente à praia. E ali esperou por um velho que trazia na mão uma pá de almadia. Falou, enquanto o Capitão estava com ele, na presença de todos nós; mas ninguém o entendia, nem ele a nós, por mais coisas que a gente lhe perguntava com respeito
a ouro, porque desejávamos saber se o havia na terra.
Trazia este velho o beiço tão furado que lhe cabia pelo buraco um grosso dedo polegar. E trazia metido no buraco uma pedra verde, de nenhum valor, que fechava por fora aquele buraco. E o Capitão lha fez
tirar. E ele não sei que diabo falava e ia com ela para a boca do Capitão para lha meter. Estivemos rindo um pouco e dizendo chalaças sobre isso. E então enfadou-se o Capitão, e deixou-o. E um dos nossos deu-lhe pela pedra um sombreiro velho; não por ela valer alguma coisa, mas para amostra. E depois houve-a o Capitão, creio, para mandar com as outras coisas a Vossa Alteza.
Andamos por aí vendo o ribeiro, o qual é de muita água e muito boa. Ao longo dele há muitas palmeiras, não muito altas; e muito bons palmitos. Colhemos e comemos muitos deles.
Depois tornou-se o Capitão para baixo para a boca do rio, onde tínhamos desembarcado.
E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E
meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo os segurou e afagou
muito, tomavam logo uma esquiveza como de animais montezes, e foram-se para cima.
E então passou o rio o Capitão com todos nós, e fomos pela praia, de longo, ao passo que os batéis iam rentes à terra. E chegamos a uma grande lagoa de água doce que está perto da praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima e sai a água por muitos lugares.
E depois de passarmos o rio, foram uns sete ou oito deles meter-se entre os marinheiros que se
recolhiam aos batéis. E levaram dali um tubarão que Bartolomeu Dias matou. E levavam-lho; e lançou-o na praia.
Bastará que até aqui, como quer que se lhes em alguma parte amansassem, logo de uma mão para outra se esquivavam, como pardais do cevadouro. Ninguém não lhes ousa falar de rijo para não se esquivarem mais. E tudo se passa como eles querem -- para os bem amansarmos !
Ao velho com quem o Capitão havia falado, deu-lhe uma carapuça vermelha. E com toda a conversa que com ele houve, e com a carapuça que lhe deu tanto que se despediu e começou a passar o rio, foise logo recatando. E não quis mais tornar do rio para aquém. Os outros dois o Capitão teve nas naus,aos quais deu o que já ficou dito, nunca mais aqui apareceram -- fatos de que deduzo que é gente bestial e de pouco saber, e por isso tão esquiva. Mas apesar de tudo isso andam bem curados, e muito limpos. E naquilo ainda mais me convenço que são como aves, ou alimárias montezinhas, as quais o ar faz melhores penas e melhor cabelo que às mansas, porque os seus corpos são tão limpos e tão gordose tão formosos que não pode ser mais! E isto me faz presumir que não tem casas nem moradias em que se recolham; e o ar em que se criam os faz tais. Nós pelo menos não vimos até agora nenhumas casas, nem coisa que se pareça com elas.
Mandou o Capitão aquele degredado, Afonso Ribeiro, que se fosse outra vez com eles. E foi; e andou lá um bom pedaço, mas a tarde regressou, que o fizeram eles vir: e não o quiseram lá consentir. E deram-lhe arcos e setas; e não lhe tomaram nada do seu. Antes, disse ele, que lhe tomara um deles
umas continhas amarelas que levava e fugia com elas, e ele se queixou e os outros foram logo após ele, e lhas tomaram e tornaram-lhas a dar; e então mandaram-no vir. Disse que não vira lá entre eles senão
umas choupaninhas de rama verde e de feteiras muito grandes, como as de Entre Douro e Minho. E assim nos tornamos às naus, já quase noite, a dormir.
Segunda-feira, depois de comer, saímos todos em terra a tomar água. Ali vieram então muitos; mas não tantos como as outras vezes. E traziam já muito poucos arcos. E estiveram um pouco afastados de nós; mas depois pouco a pouco misturaram-se conosco; e abraçavam-nos e folgavam; mas alguns
deles se esquivavam logo. Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por alguma carapucinha velha e por qualquer coisa. E de tal maneira se passou a coisa que bem vinte ou trinta pessoas das nossas se foram com eles para onde outros muitos deles estavam com moças e mulheres. E trouxeram de lá muitos arcos e barretes de penas de aves, uns verdes, outros amarelos, dos quais creio que o Capitão há de mandar uma amostra a Vossa Alteza.
E segundo diziam esses que lá tinham ido, brincaram com eles. Neste dia os vimos mais de perto e mais à nossa vontade, por andarmos quase todos misturados: uns andavam quartejados daquelas tinturas, outros de metades, outros de tanta feição como em pano de ras, e todos com os beiços
furados, muitos com os ossos neles, e bastantes sem ossos. Alguns traziam uns ouriços verdes, de árvores, que na cor queriam parecer de castanheiras, embora fossem muito mais pequenos. E estavam cheios de uns grãos vermelhos, pequeninos que, esmagando-se entre os dedos, se desfaziam na tinta
muito vermelha de que andavam tingidos. E quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam.
Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos.
E o Capitão mandou aquele degredado Afonso Ribeiro e a outros dois degredados que fossem meter-se entre eles; e assim mesmo a Diogo Dias, por ser homem alegre, com que eles folgavam. E aos degredados ordenou que ficassem lá esta noite.
Foram-se lá todos; e andaram entre eles. E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitaina. E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável
altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, para se
aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma numa extremidade, e outra na oposta. E diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os
encontraram; e que lhes deram de comer dos alimentos que tinham, a saber muito inhame, e outras sementes que na terra dá, que eles comem. E como se fazia tarde fizeram-nos logo todos tornar; e não quiseram que lá ficasse nenhum. E ainda, segundo diziam, queriam vir com eles. Resgataram lá por
cascavéis e outras coisinhas de pouco valor, que levavam, papagaios vermelhos, muito grandes e formosos, e dois verdes pequeninos, e carapuças de penas verdes, e um pano de penas de muitas cores, espécie de tecido assaz belo, segundo Vossa Alteza todas estas coisas verá, porque o Capitão vo-las há
de mandar, segundo ele disse. E com isto vieram; e nós tornamo-nos às naus.
Terça-feira, depois de comer, fomos em terra, fazer lenha, e para lavar roupa. Estavam na praia, quando chegamos, uns sessenta ou setenta, sem arcos e sem nada. Tanto que chegamos, vieram logo para nós, sem se esquivarem. E depois acudiram muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos. E
misturaram-se todos tanto conosco que uns nos ajudavam a acarretar lenha e metê-las nos batéis. E lutavam com os nossos, e tomavam com prazer. E enquanto fazíamos a lenha, construíam dois carpinteiros uma grande cruz de um pau que se ontem para isso cortara. Muitos deles vinham ali estar
com os carpinteiros. E creio que o faziam mais para verem a ferramenta de ferro com que a faziam do que para verem a cruz, porque eles não tem coisa que de ferro seja, e cortam sua madeira e paus com pedras feitas como cunhas, metidas em um pau entre duas talas, mui bem atadas e por tal maneira que andam fortes, porque lhas viram lá. Era já a conversação deles conosco tanta que quase nos estorvavam no que havíamos de fazer.
E o Capitão mandou a dois degredados e a Diogo Dias que fossem lá à aldeia e que de modo algum viessem a dormir às naus, ainda que os mandassem embora. E assim se foram.
Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios essas árvores; verdes uns, e pardos, outros, grandes e pequenos, de sorte que me parece que haverá muitos nesta terra.
Todavia os que vi não seriam mais que nove ou dez, quando muito. Outras aves não vimos então, a não ser algumas pombas-seixeiras, e pareceram-me maiores bastante do que as de Portugal. Vários diziam que viram rolas, mas eu não as vi. Todavia segundo os arvoredos são mui muitos e grandes, e
de infinitas espécies, não duvido que por esse sertão haja muitas aves!
E cerca da noite nós volvemos para as naus com nossa lenha.
Eu creio, Senhor, que não dei ainda conta aqui a Vossa Alteza do feitio de seus arcos e setas. Os arcos são pretos e compridos, e as setas compridas; e os ferros delas são canas aparadas, conforme Vossa Alteza verá alguns que creio que o Capitão a Ela há de enviar.
Quarta-feira não fomos em terra, porque o Capitão andou todo o dia no navio dos mantimentos a despejá-lo e fazer levar às naus isso que cada um podia levar. Eles acudiram à praia, muitos, segundo das naus vimos. Seriam perto de trezentos, segundo Sancho de Tovar que para lá foi. Diogo Dias e
Afonso Ribeiro, o degredado, aos quais o Capitão ontem ordenara que de toda maneira lá dormissem, tinham voltado já de noite, por eles não quererem que lá ficassem. E traziam papagaios verdes; e outras aves pretas, quase como pegas, com a diferença de terem o bico branco e rabos curtos. E
quando Sancho de Tovar recolheu à nau, queriam vir com ele, alguns; mas ele não admitiu senão dois mancebos, bem dispostos e homens de prol. Mandou pensar e curá-los mui bem essa noite. E comeram toda a ração que lhes deram, e mandou dar-lhes cama de lençóis, segundo ele disse. E dormiram e
folgaram aquela noite. E não houve mais este dia que para escrever seja.
Quinta-feira, derradeiro de abril, comemos logo, quase pela manhã, e fomos em terra por mais lenha e água. E em querendo o Capitão sair desta nau, chegou Sancho de Tovar com seus dois hóspedes. E por ele ainda não ter comido, puseram-lhe toalhas, e veio-lhe comida. E comeu. Os hóspedes, sentaram-no
cada um em sua cadeira. E de tudo quanto lhes deram, comeram mui bem, especialmente lacão cozido frio, e arroz. Não lhes deram vinho por Sancho de Tovar dizer que o não bebiam bem.
Acabado o comer, metemo-nos todos no batel, e eles conosco. Deu um grumete a um deles uma armadura grande de porco montês, bem revolta. E logo que a tomou meteu-a no beiço; e porque se lhe não queria segurar, deram-lhe uma pouca de cera vermelha. E ele ajeitou-lheseu adereço da parte de
trás de sorte que segurasse, e meteu-a no beiço, assim revolta para cima; e ia tão contente com ela, como se tivesse uma grande jóia. E tanto que saímos em terra, foi-se logo com ela. E não tornou a aparecer lá.
Andariam na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e de aí a pouco começaram a vir. E parece-me que viriam este dia a praia quatrocentos ou quatrocentos e cinqüenta. Alguns deles traziam arcos e setas; e deram tudo em troca de carapuças e por qualquer coisa que lhes davam. Comiam conosco do que lhes dávamos, e alguns deles bebiam vinho, ao passo que outros o não podiam beber. Mas querme parecer que, se os acostumarem, o hão de beber de boa vontade! Andavam todos tão bem dispostos e tão bem feitos e galantes com suas pinturas que agradavam. Acarretavam dessa lenha quanta podiam,
com mil boas vontades, e levavam-na aos batéis. E estavam já mais mansos e seguros entre nós do que nós estávamos entre eles.
Foi o Capitão com alguns de nós um pedaço por este arvoredo até um ribeiro grande, e de muita água, que ao nosso parecer é o mesmo que vem ter à praia, em que nós tomamos água. Ali descansamos um pedaço, bebendo e folgando, ao longo dele, entre esse arvoredo que é tanto e tamanho e tão basto e de
tanta qualidade de folhagem que não se pode calcular. Há lá muitas palmeiras, de que colhemos muitos e bons palmitos.
Ao sairmos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos em direitura à cruz que estava encostada a uma árvore, junto ao rio, a fim de ser colocada amanhã, sexta-feira, e que nos puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para eles verem o acatamento que lhe tínhamos. E assim fizemos. E a esses
dez ou doze que lá estavam, acenaram-lhes que fizessem o mesmo; e logo foram todos beijá-la.
Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles,
segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimirse- á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons
corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles.
E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!
Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão
rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.
Nesse dia, enquanto ali andavam, dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som de um tamboril nosso, como se fossem mais amigos nossos do que nós seus. Se lhes a gente acenava, se queriam vir às naus, aprontavam-se logo para isso, de modo tal, que se os convidáramos a todos, todos vieram. Porém
não levamos esta noite às naus senão quatro ou cinco; a saber, o Capitão-mor, dois; e Simão de Miranda, um que já trazia por pagem; e Aires Gomes a outro, pagem também. Os que o Capitão trazia, era um deles um dos seus hóspedes que lhe haviam trazido a primeira vez quando aqui chegamos -- o
qual veio hoje aqui vestido na sua camisa, e com ele um seu irmão; e foram esta noite mui bem agasalhados tanto de comida como de cama, de colchões e lençóis, para os mais amansar.
E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar. E enquanto
a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam, à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram chegar, alguns se foram meter
debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio, ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar, que será obra de dois tiros de besta do rio. Andando-se ali nisto, viriam bem cento cinqüenta, ou mais.
Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos.
Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaramse
a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.
Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de
cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes
dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos!
Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima, e ficou na alva; e assim se subiu, junto ao altar, em uma cadeira; e ali nos pregou o Evangelho e dos Apóstolos cujo é o dia, tratando no fim da pregação desse vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, que nos causou mais devoção.
Esses que estiveram sempre à pregação estavam assim como nós olhando para ele. E aquele que digo, chamava alguns, que viessem ali. Alguns vinham e outros iam-se; e acabada a pregação, trazia Nicolau Coelho muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda. E houveram
por bem que lançassem a cada um sua ao pescoço. Por essa causa se assentou o padre frei Henrique ao pé da cruz; e ali lançava a sua a todos -- um a um -- ao pescoço, atada em um fio, fazendo-lha primeiro beijar e levantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançavam-nas todas, que seriam obra de quarenta ou
cinqüenta. E isto acabado -- era já bem uma hora depois do meio dia -- viemos às naus a comer, onde o Capitão trouxe consigo aquele mesmo que fez aos outros aquele gesto para o altar e para o céu, (e um seu irmão com ele). A aquele fez muita honra e deu-lhe uma camisa mourisca; e ao outro uma camisa
destoutras.
E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui
mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje
também comungaram.
Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de
Adão não seria maior -- com respeito ao pudor.
Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-nos e fomos comer.
Creio, Senhor, que, com estes dois degredados que aqui ficam, ficarão mais dois grumetes, que esta noite se saíram em terra, desta nau, no esquife, fugidos, os quais não vieram mais. E cremos que ficarão aqui porque de manhã, prazendo a Deus fazemos nossa partida daqui.
Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e
outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos -- terra que nos parecia muito extensa.
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e- Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas.
Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se
nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!
E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.
E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita
mercê.

Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha.

NUPILL - Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística
Prece no Templo Espírita

Senhor Jesus, abençoa, por misericórdia, o lar que nos deste ao serviço da oração.
Reúne-nos aqui em teu amor e ensina-nos a procurar-te para que não nos percamos à margem do caminho.
Nos instantes felizes, sê nossa força, para que a alegria não nos torne ingratos e insensíveis.
Nos momentos amargos, sê nosso arrimo, para que a tristeza não nos faça abatidos e inúteis.
Nos dias claros, concede-nos a benção do suor no trabalho digno.
Nas noites tempestuosas, esclarece-nos o espírito para que te entendamos a advertência.
Inclina-nos a pensar sentindo, para que não guardemos gelo no cérebro, e induze-nos a sentir pensando para que não tenhamos fogo no coração.
Ajuda-nos para que a caridade em nossa existência não seja vaidade que dilacere os outros e para que a humildade em nossos dias não seja orgulho rastejante! ...
Auxilia-nos para que a nossa fé não se converta em fanatismo e para que o nosso destemor não se transforme em petulância.
Amorável Benfeitor, perdoa as nossas faltas.
Mestre Sublime, reergue-nos para a lição.
E, sobretudo, Senhor, faze que entendamos a Divina Vontade, a fim de que, aprendendo a servir contigo, saibamos dissolver a sombra de nossa presença na glória de tua luz!

. Xavier, Francisco Cândido. Da obra: O Espírito da Verdade. Ditado pelo Espírito Emmanuel
Perdoa-te
A palavra evangélica adverte que se deve ser indulgente para com as faltas alheias e severo em relação às próprias.
Somente com uma atitude vigilante e austera no dia-a-dia o homem consegue a auto-realização.
Compreendendo que a existência carnal é uma experiência iluminativa, é muito natural que diversas aprendizagens ocorram através de insucessos que se transformam em êxitos, após repetidas, face aos processos que engendram.
A tolerância, desse modo, para com as faltas alheias, não pode ser descartada no clima de convivência humana e social.
Sem que te acomodes à própria fraqueza, usa também de indulgência para contigo.
Não fiques remoendo o acontecimento no qual malograste, nem vitalizes o erro através da sua incessante recordação.
Descobrindo-te em gravame, reconsidera a situação, examinando com serenidade o que aconteceu, e regulariza a ocorrência.
És discípulo da vida em constante crescimento.
Cada degrau conquistado se torna patamar para novo logro.
Se te contentas, estacionando, perdes oportunidades excelentes de libertação.
Se te deprimes e te amarguras porque erraste, igualmente atrasas a marcha.
Aceitando os teus limites e perdoando-te os erros, mais facilmente treinarás o perdão em referência aos demais.
Quando acertes, avança, eliminando receios.
Quando erres, perdoa-te e arrebenta as algemas com a retaguarda, prosseguindo.
O homem que ama, a si mesmo se ama, tolerando-se e estimulando-se a novos e constantes cometimentos, cada vez mais amplos e audaciosos no bem.
Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Filho de Deus. Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis.
A PARENTELA CORPORAL E A PARENTELA ESPIRITUAL

Os laços do sangue não criam forçosamente os liames entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que lhe fornecer o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir.
Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não são os da consangüinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de idéias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consangüíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências (Capitulo IV, no.13).
Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e meus irmãos, isto é, minha família pelos laços do Espírito, pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
A hostilidade que lhe moviam seus irmãos se acha claramente expressa em a narração de São Marcos, que diz terem eles o propósito de se apoderarem do Mestre, sob o pretexto de que este perdera o espirito. Informado da chegada deles, conhecendo os sentimentos que nutriam a seu respeito, era natural que Jesus dissesse, referindo-se a seus discípulos, do ponto de vista espiritual: "Eis aqui meus verdadeiros irmãos." Embora na companhia daqueles estivesse sua mãe, ele generaliza o ensino que de maneira alguma implica haja pretendido declarar que sua mãe segundo o corpo nada lhe era como Espírito, que só indiferença lhe merecia. Provou suficientemente o contrário em várias outras circunstâncias.

Allan Kardec. Da obra: O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112 edição. Capitulo XIV, no.8. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1996.
LIVRA-NOS DO MAL PORQUE TEU É O REINO, O PODER E A GLÓRIA PARA SEMPRE.

O Senhor livrar-nos-á do mal; entretanto, é preciso que desejemos não errar.
Que dizer de um homem que pedisse socorro contra o incêndio, lançando gasolina à fogueira?
O reino da vida, com todas as suas notas de grandeza, pertence a Deus.
Todo o poder e toda a glória do Universo, todos os recursos e todas as possibilidades da existência são da Providência Divina, mas, em nosso círculo de ação, a vontade é nossa.
Se não ligamos nossos desejos à Lei do Bem, que procede do Céu, representando para nós a Vontade Paterna de Nosso Pai Celeste, não podemos aguardar harmonia e contentamento para o nosso coração.
Nas sombras do egoísmo, estaremos sozinhos, aflitos, perturbados e desalentados, porque egoísmo quer dizer felicidade somente para nós, contra a felicidade dos outros.
Deus permitiu que a vontade seja um patrimônio propriamente nosso, a fim de que possamos adquirir a liberdade e a grandeza, o amor e a sabedoria, por nós mesmos, como filhos de sua infinita bondade.
Por isso, se somos escravos das nossas criações que, por vezes, gastamos muito tempo a retificar, continuamos sempre livres para desejar e imaginar.
E sabemos que qualquer serviço ou realização começa em nossos sentimentos e pensamentos.
Saibamos, desse modo, conservar a nossa vontade à luz da consciência reta, porque, rogando a Deus nos liberte do mal, é preciso, por nossa vez, procurar o caminho do bem.

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Pai Nosso. Ditado pelo Espírito Meimei. 19 edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1999.
EXAMINA-TE
“Nada faças por contenda ou por vanglória, mas por humildade” Paulo (Filipenses 2:3)

O serviço de Jesus é infinito. Na sua órbita, há lugar para todas as criaturas e para todas as idéias sadias em sua expressão substancial.

Se, na ordem divina, cada árvore produz segundo a sua espécie, no trabalho cristão, cada discípulo contribuirá conforme sua posição evolutiva.

A experiência humana não é uma estação de prazer. O homem permanece em função de aprendizado e, nesta tarefa, é razoavel que saiba valorizar a oportunidade de aprender, facilitando o mesmo ensejo aos semelhantes.

O apóstolo Paulo compreendeu esta verdade, afirmando que nada deveremos fazer por espírito de contenda e vanglória, mas, sim, por ato de humildade.

Quando praticares alguma ação que ultrapasse o quadro das obrigações diárias, examina os móveis que a determinaram. Se resultou do desejo injusto de supremacia, se obedeceu somente à disputa desnecessária, cuida do teu coração para que o caminho te seja menos ingrato. Mas se atendeste ao dever, ainda que hajas sido interpretado como rigorista e exigente, incompreensivo e infiel, recebe as observações indébitas e passa adiante.

Continua trabalhando em teu ministério, recordando que, por servir aos outros, com humildade, sem contendas e vanglórias, Jesus foi tido por imprudente e rebelde, traidor da lei e inimigo do povo, recebendo com a cruz a coroa gloriosa.

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Caminho, Verdade e Vida. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 16 edição. Lição 3. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1996.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

DA MEDIUNIDADE NOS ANIMAIS

234. Podem os animais ser médiuns? Muitas vezes tem sido formulada esta
pergunta, à qual parece que alguns fatos respondem afirmativamente. O que, sobretudo,
tem autorizado a opinião dos que pensam assim são os notáveis sinais de inteligência de
alguns pássaros que, educados, parecem adivinhar o pensamento e tiram de um maço de
cartas as que podem responder com exatidão a uma pergunta feita. Observamos com
especial atenção tais experiências e o que mais admiramos foi a arte que houve de ser
empregada para a instrução dos ditos pássaros.
Incontestavelmente, não se lhes pode recusar uma certa dose de inteligência
relativa, mas preciso se torna convir em que, nesta circunstância, a perspicácia deles
ultrapassaria de muito a do homem, pois ninguém há que possa lisonjear-se de fazer o
que eles fazem. Fora mesmo necessário supor-lhes, para algumas experiências, um dom
de segunda vista superior ao dos sonâmbulos mais lúcidos.
Sabe-se, com efeito, que a lucidez é essencialmente variável e sujeita a freqüentes
intermitências, ao passo que nesses animais seria permanente e funcionaria com uma
regularidade e precisão que em nenhum sonâmbulo se vêem. Numa palavra: ela nunca
lhes faltaria.
Na sua maior parte, as experiências que presenciamos são da natureza das que
fazem os prestidigitadores e não podiam deixar-nos em dúvida sobre o emprego de
alguns dos meios de que usam estes, notadamente o das cartas forçadas. A arte da
prestidigitação consiste em dissimular esses meios, sem o que o efeito não teria graça.
Todavia, o fenômeno, mesmo reduzido a estas proporções, não se apresenta menos
interessante e há sempre que admirar o talento do instrutor, tanto quanto a inteligência
do aluno, pois que a dificuldade a vencer é bem maior do que seria se o pássaro agisse
apenas em virtude de suas próprias faculdades. Ora, levá-lo a fazer coisas que excedem
o limite do possível para a inteligência humana é provar, por este simples fato, o
emprego de um processo secreto. Aliás, há uma circunstância que jamais deixa de
verificar-se: a de que os pássaros só chegam a tal grau de habilidade, ao cabo de certo
tempo e mediante cuidados especiais e perseverantes, o que não seria necessário, se
apenas a inteligência deles estivesse em jogo. Não é mais extraordinário educá-los para
tirar cartas, do que os habituar a repetir árias, ou palavras.
O mesmo se verificou, quando a prestidigitação pretendeu imitar a segunda vista.
Obrigava-se o paciente a ir ao extremo, para que a ilusão durasse longo tempo. Desde a
primeira vez que assistimos a uma sessão deste gênero, nada mais vimos do que muito
imperfeita imitação do sonambulismo, revelando ignorância das condições essenciais
dessa faculdade.
235. Como quer que seja, no tocante às experiências de que acima falamos, não
menos integral permanece, de outro ponto de vista, a questão principal, por isso que,
assim como a imitação do sonambulismo não obsta a que
a faculdade exista, também a imitação da mediunidade por meio dos pássaros nada
prova contra a possibilidade da existência, neles, ou em outros animais, de uma
faculdade análoga.
Trata-se, pois, de saber se os animais são aptos, como os homens, a servir de
intermediários aos Espíritos, para suas comunicações inteligentes. Muito lógico parece
mesmo se suponha que um ser vivo, dotado de certa dose de inteligência, seja mais apto,
para esse efeito, do que um corpo inerte, sem vitalidade, qual, por exemplo, uma mesa.
É, entretanto, o que não se dá.
236. A questão da mediunidade dos animais se acha completamente resolvida na
dissertação seguinte, feita por um Espírito cuja profundeza e sagacidade os leitores hão
podido apreciar nas citações, que temos tido ocasião de fazer, de instruções suas. Para
bem se apreender o valor da sua demonstração, essencial é se tenha em vista a
explicação por ele dada do papel do médium nas comunicações, explicação que atrás
reproduzimos. (N. 225.)
Esta comunicação deu-a ele em seguida a uma discussão, que se travara, sobre o
assunto, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas:
"Explanarei hoje a questão da mediunidade dos animais, levantada e sustentada
por um dos vossos mais fervorosos adeptos. Pretende ele, em virtude deste axioma:
Quem pode o mais pode o menos, que podemos "mediunizar" os pássaros e os outros
animais e servir-nos deles nas nossas comunicações com a espécie humana. E o que
chamais, em filosofia, ou, antes, em lógica, pura e simplesmente um sofisma. "Podeis
animar, diz ele, a matéria inerte, isto é, uma mesa, uma cadeira, um piano; a fortiori,
deveis poder animar a matéria já animada e particularmente pássaros. Pois bem! no
estado normal do Espiritismo, não é assim, não pode ser assim.
"Primeiramente, entendamo-nos bem acerca dos fatos. Que é um médium? E o
ser, é o indivíduo que serve de traço de união aos Espíritos, para que estes possam
comunicar-se facilmente com os homens: Espíritos encarnados. Por conseguinte, sem
médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer natureza
que seja.
"Há um princípio que, estou certo, todos os espíritas admitem, é que os
semelhantes atuam com seus semelhantes e como seus semelhantes. Ora, quais são os
semelhantes dos Espíritos, senão os Espíritos, encarnados ou não? Será preciso que volo
repitamos incessantemente? Pois bem! repeti-lo-ei ainda: o vosso perispírito e o nosso
procedem do mesmo meio, são de natureza idêntica, são, numa palavra, semelhantes.
Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de magnetização
mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós, Espíritos desencarnados e encamados,
pormo-nos muito pronta e facilmente em comunicação. Enfim, o que é peculiar aos
médiuns, o que é da essência mesma da individualidade deles, é uma afinidade especial
e, ao mesmo tempo, uma força de expansão particular, que lhes suprimem toda
refratariedade e estabelecem, entre eles e nós, uma espécie de corrente, uma espécie de
fusão, que nos facilita as comunicações. E, em suma, essa refratariedade da matéria que
se opõe ao desenvolvimento da mediunidade, na maior parte dos que não são médiuns.
"Os homens se mostram sempre propensos a tudo exagerar; uns, não falo aqui
dos materialistas, negam alma aos animais, outros de boa mente lhes atribuem uma,
igual, por assim dizer, à nossa. Por que hão de pretender deste modo confundir o
perfectível com o imperfectível? Não, não, convencei-vos, o fogo que anima os
irracionais, o sopro que os faz agir, mover e falar na linguagem que lhes é própria, não
tem, quanto ao presente, nenhuma aptidão para se mesclar, unir, fundir com o sopro
divino, a alma etérea, o Espírito em uma palavra, que anima o ser essencialmente
perfectível: o homem, o rei da criação. Ora, não é essa condição fundamental de
perfectibilidade o que constitui a superioridade da espécie humana sobre as outras
espécies terrestres? Reconhecei, então, que não
se pode assimilar ao homem, que só ele é perfectível em si mesmo e nas suas obras,
nenhum indivíduo das outras raças que vivem na Terra.
"O cão que, pela sua inteligência superior entre os animais, se tornou o amigo e
o comensal do homem, será perfectível por si mesmo, por sua iniciativa pessoal?
Ninguém ousaria afirmá-lo, porquanto o cão não faz progredir o cão. O que, dentre
eles, se mostre mais bem educado, sempre o foi pelo seu dono. Desde que o mundo é
mundo, a lontra sempre construiu sua choça em cima d'água, seguindo as mesmas
proporções e uma regra invariável; os rouxinóis e as andorinhas jamais construíram os
respectivos ninhos senão do mesmo modo que seus pais o fizeram. Um ninho de pardais
de antes do dilúvio, como um ninho de pardais dos tempos modernos, é sempre um
ninho de pardais, edificado nas mesmas condições e com o mesmo sistema de
entrelaçamento das palhinhas e dos fragmentos apanhados na primavera, na época dos
amores. As abelhas e formigas, que formam pequeninas repúblicas bem administradas,
jamais mudaram seus hábitos de abastecimento, sua maneira de proceder, seus
costumes, suas produções. A aranha, finalmente, tece a sua teia sempre do mesmo
modo.
"Por outro lado, se procurardes as cabanas de folhagens e as tendas das
primeiras idades do mundo, encontrareis, em lugar de umas e outras, os palácios e os
castelos da civilização moderna. As vestes de peles brutas sucederam os tecidos de ouro
e seda. Enfim, a cada passo, achais a prova da marcha incessante da Humanidade pela
senda do progresso.
"Desse progredir constante, invencível, irrecusável, do Espírito humano e desse
estacionamento indefinido das outras espécies animais, haveis de concluir comigo que,
se é certo que existem princípios comuns a tudo o que vive e se move na Terra: o sopro
e a matéria, não menos certo é que somente vós, Espíritos encarnados, estais
submetidos a inevitável lei do progresso, que vos impele fatalmente para diante e sempre
para diante. Deus colocou
os animais ao vosso lado como auxiliares, para vos alimentarem, para vos vestirem, para
vos secundarem. Deu-lhes uma certa dose de inteligência, porque, para vos ajudarem,
precisavam compreender, porém lhes outorgou inteligência apenas proporcionada aos
serviços que são chamados a prestar. Mas, em sua sabedoria, não quis que estivessem
sujeitos à mesma lei do progresso. Tais como foram criados se conservaram e se
conservarão até à extinção de suas raças.
"Dizem: os Espíritos "mediunizam" a matéria inerte e fazem que se movam
cadeiras, mesas, pianos. Fazem que se movam, sim, "mediunizam", não! porquanto,
mais uma vez o digo, sem médium, nenhum desses fenômenos pode produzir-se. Que há
de extraordinário em que, com o auxílio de um ou de muitos médiuns, façamos se mova
a matéria inerte, passiva, que, precisamente em virtude da sua passividade, da sua
inércia, é apropriada a executar os movimentos e as impulsões que lhe queiramos
imprimir? Para isso, precisamos de médiuns, é positivo; mas, não é necessário que o
médium esteja presente, ou seja consciente, pois que podemos atuar com os elementos
que ele nos fornece, a seu mau grado e ausente, sobretudo para produzir os fatos de
tangibilidade e o de transportes. O nosso envoltório fluídico, mais imponderável e mais
sutil do que o mais sutil e o mais imponderável dos vossos gases, com uma propriedade
de expansão e de penetrabilidade inapreciável para os vossos sentidos grosseiros e quase
inexplicável para vós, unindo-se, casando-se, combinando-se com o envoltório fluídico,
porém animalizado, do médium, nos permite imprimir movimento a móveis quaisquer e
até quebrá-los em aposentos desabitados.
"É certo que os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis aos animais e,
muitas vezes, o terror súbito que eles denotam, sem que lhe percebais a causa, é
determinado pela visão de um ou de muitos Espíritos, mal-intencionados com relação
aos indivíduos presentes, ou com relação aos donos dos animais. Ainda com mais
freqüência vedes cavalos que se negam a avançar ou a recuar, ou
que empinam diante de um obstáculo imaginário. Pois bem! tende como certo que o
obstáculo imaginário é quase sempre um Espírito ou um grupo de Espíritos que se
comprazem em impedi-los de mover-se. Lembrai-vos da mula de Balaão que, vendo um
anjo diante de si e temendo-lhe a, espada flamejante, se obstinava em não dar um passo.
E que, antes de se manifestar visivelmente a Balaão, o anjo quisera tornar-se visível
somente para o animal. Mas, repito, não mediunizamos diretamente nem os animais,
nem a matéria inerte. É-nos sempre necessário o concurso consciente, ou inconsciente,
de um médium humano, porque precisamos da união de fluidos similares, o que não
achamos nem nos animais, nem na matéria bruta.
"O Sr. T..., diz-se, magnetizou o seu cão. A que resultado chegou? Matou-o,
porquanto o infeliz animal morreu, depois de haver caído numa espécie de atonia, de
langor, conseqüentes à sua magnetização. Com efeito, saturando-o de um fluido haurido
numa essência superior à essência especial da sua natureza de cão, ele o esmagou,
agindo sobre o animal à semelhança do raio, ainda que mais lentamente. Assim, pois,
como não há assimilação possível entre o nosso perispírito e o envoltório fluídico dos
animais, propriamente ditos, aniquilá-los-íamos instantaneamente, se os mediunizássemos.
"Isto posto, reconheço perfeitamente que há nos animais aptidões diversas; que
certos sentimentos, certas paixões, idênticas às paixões e aos sentimentos humanos, se
desenvolvem neles; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e odientos, conforme se
procede bem ou mal com eles. É que Deus, que nada fez incompleto, deu aos animais,
companheiros ou servidores do homem, qualidades de sociabilidade, que faltam
inteiramente aos animais selvagens, habitantes das solidões. Mas, daí a poderem servir
de intermediários para a transmissão do pensamento dos Espíritos, há um abismo: a
diferença das naturezas.
"Sabeis que tomamos ao cérebro do médium os elementos necessários a dar ao
nosso pensamento uma forma
que vos seja sensível e apreensível; é com o auxilio dos materiais que possui, que o
médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. Ora bem! que elementos
encontraríamos no cérebro de um animal? Tem ele ali palavras, números, letras, sinais
quaisquer, semelhantes aos que existem no homem, mesmo o menos inteligente?
Entretanto, direis, os animais compreendem o pensamento do homem, adivinham-no até.
Sim, os animais educados compreendem certos pensamentos, mas já os vistes alguma
vez reproduzi-los? Não. Deveis então concluir que os animais não nos podem servir de
intérpretes.
"Resumindo: os fatos mediúnicos não podem dar-se sem o concurso consciente,
ou inconsciente, dos médiuns; e somente entre os encarnados, Espíritos como nós,
podemos encontrar os que nos sirvam de médiuns. Quanto a educar cães, pássaros, ou
outros animais, para fazerem tais ou tais exercícios, é trabalho vosso e não nosso.
ERASTO.
NOTA. Na Revue Spirite, de setembro de 1861, encontra-se, minudenciado, um
processo empregado pelos educadores de pássaros sábios, com o fim de fazê-los tirar de
um maço de cartas as que se queiram.
PORCO-ESPINHO

Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor. Por isso decidiram se afastar uns dos outros e voltaram a morrer congelados, então precisavam fazer uma escolha: ou desapareceriam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros. Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro.
E assim sobreviveram...

"O melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele onde cada um aprende a conviver com os defeitos do outro e consegue admirar suas qualidades”.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ALGUMAS ANOTAÇÕES SOBRE O ESPIRITISMO E O TERCEIRO MILÊNIO


RECOMENDAÇÃO DO MESTRE JESUS: "CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE TE LIBERTARÁ".


O Espiritismo, por suas conseqüências religiosas, é a doutrina da fé raciocinada. Ensina essa doutrina que não basta decorar o que se tenha lido ou ouvido, mas pede que pensemos a respeito de tudo, para que, conscientemente, tenhamos certeza do que sentimos e estejamos sempre prontos a aprender. Deve ser assim para quem se imagine adepto do Espiritismo cristão.
Baseada no tripé - filosofia, ciência e moral religiosa -, a Doutrina Espírita, também conhecida como a Terceira Revelação trazida pelos Espíritos superiores, registrada e perenizada na Codificação de Allan Kardec, é conhecida pelos seus seguidores e estudiosos - repetimos – como a "Doutrina da Fé Raciocinada". Com ela, além de analisarmos sobre o que somos, de onde viemos, o que estamos fazendo na Terra e para onde vamos após o desencarne (a morte do corpo), aprendemos que não devemos apenas repetir o que lemos e ouvimos, pois temos, como Espíritos encarnados, seres inteligentes da Natureza e com tarefas definidas para o nosso progresso, a obrigação de raciocinar acerca de tudo e só aceitar aquilo que possa enfrentar a ciência, face a face, sem temer a verdade. Somos dotados do livre-arbítrio por Deus e podemos escolher, conscientemente, sobre o que entendemos como certo e bom.
A ciência prova que a Terra existe há bilhões de anos. A origem do ser humano, segundo os pesquisadores, remonta a três bilhões de anos. E os registros históricos mostram que as religiões e as manifestações das crenças têm milhões de anos, com as mais variadas formas de misticismo e os questionamentos de seus seguidores. As civilizações do mundo criaram seus horóscopos, marcando o tempo de nascimento de suas sociedades, e têm seus calendários, nem sempre cientificamente comprovados, mas dogmaticamente seguidos e festejados. Assim, fala-se de horóscopo chinês, horóscopo asteca, horóscopo incaico, horóscopo indiano, e outros, bem como de calendário egípcio, calendário grego, calendário judaico, calendário romano, calendário muçulmano, calendário eclesiástico, etc, com base em costumes e tradições.
Por exemplo, a civilização dos Incas existiu desde 20.000 a 100 anos antes de Cristo (a.C.); a civilização africana conta registros de pinturas de 6000 anos a.C.; a civilização egípcia, mais de 4000 anos a.C., assim como a civilização judaica; a civilização grega é de mais de 3000 anos a.C.; a indiana, além de 2500 anos a.C., como também a chinesa, e há outros registros que podem ser pesquisados. Veja-se, a propósito, que em 15 de setembro de 2007, foi comemorado por Israel o Ano 5767, e a China, em 2007, comemorou o Ano 4704, e outros apontamentos históricos poderiam ser lembrados.
Ainda, se fizermos uma busca na história das religiões, encontraremos, em várias épocas e em lugares mais diversos, Espíritos altamente evoluídos: são os chamados reveladores, missionários, guias ou líderes religiosos que, com os seus ensinamentos, foram e são bases morais para seus povos ou seguidores. Poderíamos citar alguns, como exemplos: Krishna, que viveu por volta do ano 2100 a.C. (antes de Cristo) e ensinava que "quando o corpo se dissolve, a alma vai para a região de seres puros; se a paixão a domina, ela vem de novo habitar a Terra"; depois, Moisés, cerca de 1700 anos a.C. (antes de Cristo), com o judaísmo, que originou a seita do cristianismo, a ele creditando-se a origem do Dez Mandamentos; em seguida, os divulgadores do bramanismo, mais ou menos 1400 a.C. (antes de Cristo), tendo o Brama como criador, superior, absoluto, com base no Livro dos Vedas, envolvendo ainda costumes, dogmas, mistérios, sacrifícios; e, já próximo dos 700 anos a.C. (antes de Cristo), veio Budha, dele nascendo o budismo, ensinando a "colocação da humanidade no caminho da mora.l e da Lei Divina"; mais adiante, viria Lao-Tse, na China, cerca de 600 anos a.C. (antes de Cristo), com o taoísmo, aconselhando "esquecer as ofensas e amar ao próximo como a si mesmo"; e, ainda na China, tem-se o filósofo Confúcio, 550 anos a.C. (antes de Cristo), criando-se o confucionismo, que ensinava: "Faze ao próximo como a ti mesmo; esquece as injúrias, mas não os benefícios"; e chegamos à Era Cristã, com Jesus Cristo e suas lições de amor, justiça, caridade e perdão, nascendo o cristianismo, inicialmente perseguido e, depois, tornando-se religião estatal (aceita pelo Estado Romano), pelo Edito de Milão, no ano 313 depois de Cristo (d.C.), por ato do Imperador Constantino.
Pois bem. Sabemos que "o progresso moral do mundo ou da humanidade se dará pelo progresso individual de cada um dos seus membros", como ensinam os Espíritos. Entretanto, como, via de regra, os espíritas são pessoas interessadas em aprender, aos poucos, vêm se tornando leitores cativos de muitas editoras, ora havendo obras sérias e edificantes, ora encontrando-se livros e artigos que não podem ser aceitos sem maior reflexão... Há, infelizmente, algumas obras e articulistas falando do Terceiro Milênio como se, partindo do ano dois mil da Era Cristã, o mundo estivesse se transformando em um ambiente melhor, e isso não dependesse das descobertas do ser humano em todas as épocas, do seu esforço e de sua reforma íntima, evitando o mal e persistindo no bem, em suas caminhada de progresso, caindo e levantando, sofrendo ou tendo sucesso, chorando e sorrindo, sempre em busca de "conhecer a verdade e se libertar".
Somos espíritas cristãos e, por isso, não podemos esquecer os registros da ciência e os ensinamentos dos Espíritos, bem como das lições de Allan Kardec e de seus seguidores éticos. A história (que é ciência), por exemplo, nos mostra, por intermédio de documentos, que, em razão de inúmeras divergências quanto a data do Nascimento de Jesus, o dia 25 de dezembro (Dia de Natal) foi uma criação do Papa Julio I, no Século IV d.C. (depois de Cristo), para evitar as "datas pagãs".

Sabemos que o mundo abriga a humanidade e que está é o resultado de bilhões de anos de lenta evolução. Por isso, como adeptos conscientes do Espiritismo, não devemos esquecer que o progresso moral é vagaroso e não se inicia partindo do ano 2001 da Era Cristã, mas é de todas as épocas. Repetimos, com base nas lições da Doutrina Espírita, que a melhoria do Planeta Terra, para todos nós, dependerá do progresso individual de cada ser humano. Devemos aprender a perdoar, a diminuir nosso preconceito e amar ao próximo. E o modelo para isso acha-se na Questão nº 625 de "O Livro dos Espíritos": - Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? E a resposta é: JESUS! Basta que sigamos suas lições e seus exemplos.

Bismael B. Moraes, advogado, Mestre em Direito Processual pela USP, membro da UDESP – União dos Delegados de Polícia Espíritas do Estado de S.Paulo, é Diretor de Ensino Doutrinário do Centro Espírita Ismael (Jaçanã, São Paulo, Capital) e participa dos programas "Espiritismo e Segurança Pública", às 5ª feiras, 17 horas, e "Jornal Nova Era", às 2ª feiras, 12 horas, na Radio Boa Nova 1450-AM, em Guarulhos/SP.
UM DEUS

Milhões de estrelas colocadas nos céus... por um Deus.
Milhões de nós levantamos nossos olhos a um Deus.
Muitas crianças O chamam por muitos nomes diferentes...
Um Pai, que ama a cada um por igual.

Muitas formas diferentes que oramos a um Deus.
Muitas são as trilhas que se juntam no caminho a um Deus.
Irmãos e irmãs – nenhum é estranho depois que Deus terminou Sua criação.
Porque seu Deus e meu Deus é um Deus.
* * *
Os versos são a tradução livre de uma canção interpretada pela cantora Barbra Streisand.
É interessante se observar como tantos cantores, no mundo, têm se referido a Deus, ao Criador. São criaturas que, na Terra, interpretam as vozes dos céus, conclamando os homens à fraternidade.
Em verdade, muitos dos que se dizem religiosos se enclausuram em suas crenças e excluem do amor de Deus os demais seres humanos.
E, contudo, só há um Deus. Um Deus que a todos criou, que a todos ama, não importando a forma com que seja ou não reverenciado.
Um Deus que sabe que cada filho Seu se encontra em estágio evolutivo diverso e, por isso mesmo, tem diferente entendimento a respeito do Seu Criador.
Somos nós, os seres pequenos da Criação que nos arvoramos em grandezas e criamos exclusividades, elegemos preconceitos e fazemos seleções de quem deve ou não ser credor das heranças do Universo.
Somos nós, os homens, que nos separamos em religiões, quando elas deveriam, em verdade, nos unir.
Porque, afinal, todos aspiramos pela felicidade. Todos desejamos nos alçar ao Pai, ao Criador. Todos almejamos um lugar de paz e de amor. Um aconchego. Um paraíso.
E as religiões existem para exatamente nos mostrar o caminho para tal ventura.
Deus é um só. Criador do Universo que descobrimos, a pouco e pouco, extasiando-nos. É o Pai dos seres que criou à Sua imagem e semelhança.
* * *
O seu Deus e o meu Deus é um só Deus.
Tenhamos isso em mente. E nos amemos, auxiliando-nos mutuamente.
Façamos a listagem das maravilhas do Universo e nos sintamos felizes em saber que tudo isso é compartilhado com todos os filhos de Deus.
Filhos desta Terra, do nosso Sistema Solar, filhos que vivam em dimensões nem imaginadas por nós, nem alcançadas pela nossa ciência – todos são herdeiros das grandezas da Criação.
Um Deus. Amor, justiça e luz.
Um Deus. Pai benevolente, pródigo de bênçãos.
Um Deus que nos aguarda, no lar celeste.
Um Deus que nos observa as lutas, perdoa nossas quedas e aguarda que cresçamos até alcançá-Lo.

Redação do Momento Espírita com citação de versos da
canção One God, interpretada por Barbra Streisand.
Em 26.10.2009.

domingo, 25 de outubro de 2009

RESPOSTAS DE CHICO XAVIER

Haverá maior frio na alma que a indiferença dos nossos semelhantes?
Chico Xavier:
- Pode haver indiferença dos nossos semelhantes para conosco, entretanto de nós para com o outro isso não deveria acontecer.
Cremos que se Jesus houvesse levado em conta nossa incapacidade para assimilar-lhe de pronto o desvelado e intenso amor, o Cristianismo não estaria brilhando, e brilhando cada vez mais na Terra.
(
Pergunta feita por Fernando Worm. Consta do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, Escrito por Marlene R. S. Nobre
)

Chico, como é que você vê a onda de violência que aumenta a cada dia?
Chico Xavier:
- A violência é qual se fosse a nossa agressividade exagerada trazida ao nosso consciente, quando estamos em carência de amor. Ela lava, por isso, o desamor coletivo da atualidade.
Se doarmos mais um tanto, se repartirmos um tanto mais se houver um entendimento maior, estaremos contribuindo para a diminuição desta onda crescente de agressividade.
À medida que a riqueza material aumenta o conforto e a aquisição de bens também cresce, com isso retornaremos à autodefesa exagerada, isolando-nos das criaturas humanas. A vacina é o amor de uns pelos outros, programa que Jesus nos deixou há dois mil anos.
( Pergunta feita por Ana Maria Farias, jornalista da Editora Abril, numa entrevista coletiva perante as câmeras da Rede Globo, comandada por Augusto César Vanucci, em julho de 1980.
Consta do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, Escrito por Marlene R. S. Nobre)

Diga-nos o que deve fazer, dentro de suas capacidades, um médium, a fim de poder ser completo e útil para o Plano Espiritual?

Chico Xavier:
- Devotamento ao bem do próximo, sem a preocupação de vantagens pessoais, eis o primeiro requisito para que o medianeiro se torne sempre mais útil ao Plano Espiritual. Em seguida, quanto mais o médium se aprimore através do estudo e do dever nobremente cumprido, mais valioso se torna para a execução de tarefas com os instrutores da Vida Maior.
(Pergunta feita pela equipe de jornalistas de a Flama Espírita, de Uberaba, em entrevista feita em junho de 1990. Consta do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, Escrito por Marlene R. S. Nobre).

No início de sua missão mediúnica, o senhor foi muitas vezes incompreendido e até caluniado. Como faria uma análise disso, já que hoje sua imagem tem outra aceitação?

Chico Xavier:
- Minha atitude perante a opinião pública foi sempre à mesma, de muito respeito ao pensamento dos outros. Porque nós não podemos esperar que os outros estejam ideando situações e problemas de acordo com nossas convicções mais íntimas. De modo que não posso dizer que sofri essa ou aquela agressão, porque isso nunca aconteceu em minha vida. Sempre encontrei muita gente boa. Vamos procurar um símbolo: dizem que os índios gostam muito de simbologia por falta de termos adequados para se expressar.
Como me sinto uma pessoa bastante inculta, eu gosto muito de recorrer a essas imagens. Vamos pensar que eu seja uma pedra que foi aproveitada no calçamento de uma avenida. Colocada a pedra no piso da avenida, naturalmente que essa pedra vai se sentir muito honrada de estar ali a serviço dos transeuntes e, naturalmente, que essa pedra não poderá se queixar dos martelos que lhe tenham quebrado as arestas.
Todos eles foram benfeitores.
( Esta entrevista faz parte de um extenso trabalho de reportagem dos jornalistas Airton Guimarães e José de Paula Costa, do jornal "Estado de Minas", publicado nas edições de 8, 9, 10 e 12 de julho de 1980.Fonte: "O Espírita Mineiro", número 182, maio/agosto de 1980 - Páginas 256/257 do livro "Chico Xavier - mandato de amor"/União Espírita Mineira - Belo Horizonte, 1992)

Como ficará a Doutrina Espírita após a sua morte? O senhor acha que ela ficará abalada? Quem poderá substituí-lo na liderança?

Chico Xavier:
- A Doutrina Espírita estará tão bem depois da minha desencarnação quanto estava antes, porque eu não sou pessoa com qualidades especiais para servi-la. Eu sou um médium tão comum, tão falível como qualquer outro. Não me sinto uma pessoa necessária e muito menos indispensável. Outros médiuns estarão aí interpretando o pensamento e a mensagem dos nossos amigos espirituais, e eu peço a Deus apenas que não me deixe dar "mancadas" em minha tarefa.
(Esta entrevista faz parte de um extenso trabalho de reportagem dos jornalistas Airton Guimarães e José de Paula Costa, do jornal "Estado de Minas", publicado nas edições de 8, 9, 10 e 12 de julho de 1980.
Fonte: "O Espírita Mineiro", número 182, maio/agosto de 1980 - Páginas 256/257 do livro "Chico Xavier - mandato de amor"/União Espírita Mineira - Belo Horizonte, 1992)

Poderia nos contar um fato ou uma passagem de sua vida que lhe traz melhores recordações e que mais lhe tocou o coração?

Chico Xavier:
Peço permissão para contar um caso que para mim foi um dos mais expressivos, que mais parece uma história infantil.
Eu estava em Uberaba, há uns dois anos, esperando um ônibus para ir ao cartório. Da nossa residência até lá tem uns três quilômetros. Nós, com o horário marcado, não podíamos perder o ônibus. Mas, quando o ônibus estava quase parando, uma criança, de uns cinco anos, apresentando bastante penúria, gritava por mim, de longe. Chamava por Tio Chico, mas com muita ansiedade. O ônibus parou e eu pedi, então, ao motorista: "Pode tocar o ônibus, porque aquela criança vem correndo em minha direção e estou supondo que este menino esteja em grande necessidade de alguma providência". O ônibus seguiu, eu perdi, naturalmente, o horário. A criança chegou ao meu lado, arfando, respirando com muita dificuldade. Eu perguntei: "O que aconteceu, meu filho?" Ele respondeu: "Tio Chico, eu queria pedir ao senhor para me dar um beijo".
Esse eu acho que foi um dos acontecimentos mais importantes de minha vida.

(Esta entrevista faz parte de um extenso trabalho de reportagem dos jornalistas Airton Guimarães e José de Paula Costa, do jornal "Estado de Minas", publicado nas edições de 8, 9, 10 e 12 de julho de 1980. Fonte: "O Espírita Mineiro", número 182, maio/agosto de 1980 - Páginas 256/257 do livro "Chico Xavier - mandato de amor"/União Espírita Mineira - Belo Horizonte, 1992)

Em meados de 1978 um guru indiano visitava o Brasil e o assunto no alpendre da casa de Chico Xavier girava em torno da meditação transcendental e sua aplicação na vida do homem ocidental, conforme apregoado pelo religioso recém-chegado das montanhas do Himalaia.
O médium ouviu com acatamento as notícias acerca dos prodígios obtidos pelos gurus e a seguir contou-nos a seguinte história:

Chico Xavier:
Às margens do Ganges vivia um guru que se propunha a meditar e a jejuar até que conseguisse cruzar as águas do rio sagrado, levitando o corpo. Nesse mister de esforços empreendeu dez anos de sua vida, até julgar-se apto a fazer aquela travessia a seco.
No dia escolhido, certo de que conseguiria volitar sobre a superfície líquida caminhou resolutamente e, para espanto de muitos, realmente chegou a seco no outro lado do rio.
Ao pisar a outra margem, embora com o coração cheio de júbilo, perguntou ao seu guia por que foram necessários dez anos para cruzar sobre as águas do rio sagrado.
"Muito simples"- respondeu-lhe o Espírito, "não terias esperado tanto se há dez anos tivesses construído aí uma pinguela para fazer essa travessia..."
(Depoimento dado pelo médium e escritor Carlos A. Baccelli, de Uberaba, MG, em agosto/1980, publicado no livro Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita. Escrito por Marlene R. S. Nobre).

Por que, na maioria dos casos, após a morte, a fisionomia dos desencarnados adquire uma expressão de suave paz?

Chico Xavier:

- A maioria das criaturas, em se desencarnando, de maneira pacífica, isto é, com a paz de consciência, quase sempre reencontra entes queridos que a antecederam na viagem da chamada morte física e deixa no próprio semblante as derradeiras impressões de paz e alegria que o corpo consegue estampar.
(Resposta dada em entrevista feira pelo jornalista Fernando Worm, publicada no jornal "O Espírita Mineiro", de Belo Horizonte, MG, número 171, fevereiro/abril de 1977. Página 241 do livro "Chico Xavier - mandato de amor"/União Espírita Mineira - Belo Horizonte, 1992)

Sempre me pareceu que nós, a maioria das pessoas, desconhecemos a imensa força do pensamento na formulação da existência. O pensamento pode reformular a vida de uma pessoa?

Chico Xavier:
- Sem dúvida. Os benfeitores espirituais são unânimes em asseverar que toda renovação do espírito, em qualquer circunstância, começa na força mental. O pensamento é a força criadora nas menores manifestações. (Resposta dada em entrevista feira pelo jornalista Fernando Worm, publicada no jornal "O Espírita Mineiro", de Belo Horizonte, MG, número 171, fevereiro/abril de 1977. Página 241 do livro "Chico Xavier - mandato de amor"/União Espírita Mineira - Belo Horizonte, 1992)

Como encontrar motivação e despertar em nosso íntimo novas e insuspeitadas fontes de energia na reedificação da nossa felicidade? Em outras palavras: Qual o caminho para nos sintonizarmos com os inesgotáveis mananciais de energia do Universo?
Chico Xavier:
- Dizem os amigos espirituais que a iniciação da verdadeira felicidade está em fazer os outros felizes. Ao doar alegria e paz, bom ânimo e segurança ao próximo, encontramos a fonte de energia que nos fará constantemente motivados para a sustentação da felicidade para nós mesmos.
(Resposta dada em entrevista feira pelo jornalista Fernando Worm, publicada no jornal "O Espírita Mineiro", de Belo Horizonte, MG, número 171, fevereiro/abrilde1977. Página 241 do livro "Chico Xavier - mandato de amor"/União Espírita Mineira - Belo Horizonte, 1992).

Que lhe ocorre dizer às pessoas que, embora se esforcem, não conseguem se espiritualizar, porque se sentem cativas de remanescentes paixões ou fortes algemas emocionais?

Chico Xavier:
- Ainda que nos sintamos encarcerados em idéias negativas que, às vezes, nos colocam em sintonia com inteligências encarnadas ou desencarnadas, ainda presas a certos complexos de culpa, conseguiremos a própria liberação desses estados, claramente infelizes, se nos dispusermos com sinceridade a varar a concha do nosso próprio egoísmo, esquecendo, quanto ao aspecto inarmônico de nossa vida mental, para servir aos outros, especialmente àqueles que atravessam provações e problemas muito maiores que os nossos.
(Resposta dada em entrevista feira pelo jornalista Fernando Worm, publicada no jornal "O Espírita Mineiro", de Belo Horizonte, MG, número 171, fevereiro/abril de 1977. Página 242 do livro "Chico Xavier - mandato de amor"/União Espírita Mineira - Belo Horizonte, 1992)

Qual o melhor antídoto contra a falta de confiança em nós mesmos?

Chico Xavier:

- Os amigos da Vida Maior nos ensinam que na prática da humildade, na prestação de serviços aos nossos irmãos da Humanidade, adquiriremos esse antídoto contra a falta de confiança em nós próprios, de vez que aprenderemos na humildade, que o bem verdadeiro, de que possamos ser intérprete, em favor de nossos semelhantes, procede de Deus e não de nós.
(Resposta dada em entrevista feira pelo jornalista Fernando Worm, publicada no jornal "O Espírita Mineiro", de Belo Horizonte, MG, número 171, fevereiro/abril de 1977. Página 242 do livro "Chico Xavier - mandato de amor"/União Espírita Mineira - Belo Horizonte, 1992)

Qual é a verdade desta vida?

Chico Xavier:

- Há algum tempo, um espírito amigo, aliás, um trovador de renome, ao referir-se àVerdade me disse que ela se parece a um espelho do Céu que se quebrou ao tocar na Terra, em Inúmeros fragmentos. Cada um de nós possui um pequeno pedaço desse espelho simbólico, com o qual pode observar a própria imagem, aperfeiçoando-a sempre. (Pergunta feita pelo jornalista Fernando Worm, em julho de 1977, constante do livro Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre).

Chico, qual o mais importante aspecto da Doutrina Espírita, o de religião, o de filosofia ou o de ciência?

Chico Xavier:
- O espírito de Emmanuel costuma nos dizer que a coisa mais importante que cada um de nós poderá fazer na vida é seguir o mandamento cristão que nos aconselha "Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo".
Segundo Emmanuel, tudo o mais é mera interpretação da verdade. Desta forma, não temos dúvida ao crermos ser o aspecto religioso da Doutrina Espírita o seu ângulo fundamental.
Muito nobre a filosofia, mas em verdade a filosofia nada mais faz do que muita conversa. Muito nobre o esforço científico, mas em verdade a mesma ciência que inventou a vacina, construiu a bomba atômica. Então, devemos reconhecer que todos nós, os seres humanos, trazemos dentro de nós um alto grau de periculosidade e, até hoje, a única força no mundo capaz de frear estes impulsos de periculosidade humana é, sem sombra de dúvida, a religião.
(Pergunta feita por Geraldo Lemos Neto em outubro de 1981, extraída do livro Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre).

A que atribui o fato de grande parte da população brasileira seguir duas
religiões. Nas grandes capitais, a maioria das pessoas declara-se tradicionalmente pertencente a essa ou aquela igreja, mas na hora da dor e da adversidade, muitos vão em busca do pai-de-santo ou do caboclo incorporado que lhes afirma: 'Vou dar um jeito no seu problema".

Chico Xavier:

- Ante os problemas do imediatismo na Terra ser-nos-á realmente difícil pensar em nossos irmãos da coletividade humana por pessoas capazes de aguardar uma solução mais segura às questões que as preocupam quando algum ingrediente de facilidade possa surgir de perto, quase que exigindo a adesão da criatura necessitada, para que a tranqüilidade transitória venha a favorecê-la. Isso é claramente humano. Aliás, não será de desprezar o concurso que alguém nos oferte em benefício de nossa paz, quando a aflição muitas vezes dramatizada ou exagerada nos colha de assalto. Entretanto, as leias da vida não se alteram para ninguém. Uma ferida em nós pode talvez encontrar um paliativo que a obscureça, dando-nos a impressão de cura, mas chega sempre o momento em que verificamos, às vezes tardiamente, que essa ferida, supostamente um mal, era justamente o bem que necessitávamos para evitar sofrimento maior. (De entrevista feita por Fernando Worm, em janeiro de 1977, constante do livro Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre).

Como os espíritos explicam o crescimento das chamadas doutrinas evangélicas e pentecostais?
Chico Xavier:
- Cada um tem liberdade para manifestar seus pensamentos e estender suas idéias. Sempre existirão aventureiros. E eles terão sempre em sua mira aqueles que trabalham. Somos um conjunto de corações que precisa estar atento às nossas tradições, não digo tradição no sentido do comodismo, mas no sentido de grandeza, progresso objetivo, pensamento positivos e realmente voltados para o bem do próximo. Isso tudo é pensamento dos espíritos amigos.
Devemos cultivar nossas orações não como uma obrigação, mas como uma homenagem singela a Deus, que nos deu um mundo tão lindo. Eu olho as plantas por esta minha janela e fico perguntando por que elas são tão verdes e tão floridas. Vejo nesta simplicidade o melhor lugar para se orar e falar com Deus.
Para que freqüentar igrejas sombrias quando o caminho da alma é aquele onde se adora a Deus e se ama o próximo. Aí está a estrada que devemos percorrer. Um dia alguém veio me dizer que em determinada cidade uma igreja havia sido destruída. Não quis saber qual era a cidade, mas disse: cada igreja que se fecha dá a chance de abertura de cinco sanatórios.
Não posso discutir sobre essas igrejas porque elas se dividiram. Mas acho que Jesus ainda é Nosso maior ponto de chegada, nosso ponto central de atenção. Não compreendo a divisão da fé. Acho que o cristianismo é uno e sua divisão é incompreensível. Aquilo que não compreendo não falo.
( Pergunta feita por Gugu Liberato, em novembro de 1955. Extraído do livro Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre.)

Você tem medo da morte?

Chico Xavier:
- Não tenho medo, pois creio que essa convivência com entidades espirituais me deu um desligamento dos interesses imediatos da vida física.
Prefiro viver no padrão que fui criado. Assim eu quero que seja até o dia de partir. Não sou atormentado pela dor. Sou muito feliz porque os espíritos me escolheram para realizar esta tarefa de, durante algum tempo, na forma de livros e mensagens, poder estender suas opiniões e manifestações. Comecei este trabalho em 1927 e trabalhei regularmente com eles até 1994.
(De uma entrevista dada a Gugu Liberato, em novembro de 1995, publicada na Revista Isto É).

Gostaria de saber como uma pessoa pode notar que é dotada de mediunidade, quais as vantagens espirituais oferecidas pela mesma, e como essa pessoa deve proceder?

Chico Xavier:
- Vamos dizer, a mediunidade é peculiar a toda criatura humana; todas as pessoas são portadoras de valores mediúnicos que podem ser cultivados ao máximo, desde que a criatura se dedique a esse gênero de trabalho espiritual. De modo que. Muitas vezes, encontramos certa dificuldade no problema mediúnico dentro da Doutrina Espírita.
De modo geral, a pessoa só se diz médium quando se sente vinculada a um processo obsessivo; quando sente arrepios, muita perturbação, muito assediado; médium doente. A mediunidade está enferma. Mas a pessoa sã, em plenitude dos seus valores tísicos, pode Perfeitamente estudar a própria mediunidade e ver qual o caminho que suas faculdades mediúnicas podem tomar. Uma criatura que desenvolva a sua própria mediunidade desenvolve-a educando-se, procurando aprimorar a sua capacidade cultural, os seus valores, vamos dizer, os seus valores de experiência humana, os seus contatos no campo da humanidade, o seu dom de servir; essa criatura encontra na mediunidade um campo vastíssimo de trabalho e de felicidade, porque a felicidade verdadeira vem do trabalho bem aplicado, daquele trabalho que se constitui um serviço pelo bem de todos. E o médium, dentro da Doutrina Espírita. é uma criatura não considerada fora de série de criaturas humanas 0 médium é um ser humano, com as fraquezas e as perfeições potenciais de toda a criatura terrestre.
Então, a Doutrina Espírita é Mãe Generosa porque acolhe a criatura humana e faz dela um médium, mesmo que tenha muitos erros e muitos acertos, mas, depois, no Curso do tempo, os acertos vão abafando os erros e a criatura pode terminar a existência com grande merecimento porque pelo trabalho na mediunidade, trabalho pelo bem comum, ela vence esse peso, que é o mais importante no mundo.
Vencer a nós mesmos do ponto de vista das tendências inferiores que estejamos carregando. Falo isso a meu respeito, porque não creio que ninguém carregue tanta imperfeição como eu...
(Evangelho e Ação - Fevereiro e Março de 2000)

Ignora você a popularidade que os livros mediúnicos lhe trouxeram?

Chico Xavier:
- Sei que eles me trouxeram muita responsabilidade.
Quanto ao caso da popularidade, sei que cada amigo faz de nós um retrato para uso próprio e cada inimigo faz outro. Mas diante do Mundo Espiritual não somos aquilo que os outros imaginam e sim o que somos verdadeiramente. Desse modo, sei que sou um espírito imperfeito e muito endividado, com necessidade constante de aprender, trabalhar, dominar-me e burilar-me perante as leis de Deus.

Numa de suas raras entrevistas, Chico Xavier recebeu em sua casa, nas comemorações dos 40 anos de suas manifestações mediúnicas, o escritor Elias Barbosa, autor de "No mundo de Chico Xavier" e respondeu as perguntas do autor. Nelas, Chico expõe fatos e episódios que são pouco conhecidos e dizem de seus primeiros anos de vida na senda do espiritismo.

Disciplina
Chico Xavier:
- Quem abandona o cultivo de si mesmo permite que o matagal de suas imperfeições tome conta da alma. Sem disciplina, o espírito não avança. Se eu não me submetesse à disciplina na mediunidade, o esforço dos Espíritos teria sido em vão. O médium tem que ter horário. Não é ser escravo do relógio, mas também não é ignorar o valor do tempo.
(Do livro "Orações de Chico Xavier", do escritor Carlos A. Baccelli, editado em abril de 2003, pela Livraria Espírita Edições "Pedro e Paulo", sendo que os seus direitos autorais foram doados às obras assistenciais do Lar Espírita "Pedro e Paulo". Uberaba - MG)

Conta-se que, certa feita, perguntaram ao Chico, como ficaria o Espiritismo no Brasil quando cessassem as suas atividades mediúnicas, ao que ele
respondeu:
Chico Xavier:
- “Meu filho, médium é como grama, quanto mais se arranca, mais, ela brota.( Jornal Busca e Acharás).

É MUITO
Quando estávamos construindo o Centro Espírita, nossa inexperiência fez com que elaborássemos um estatuto muito longo, com muitos artigos, calhamaço e tanto, recheado de coisas desnecessárias. Havia, acima da Diretoria, um Conselho Deliberativo composto de nove elementos em caráter vitalício. Esse povão todo a deliberar, palpitar, discutir. Muitas opiniões, o Centro deu de emperrar.
Consultando, o Chico nos disse:
-Jesus chamou doze para reformar o mundo. Você quer só nove para Mirassol! (Jornal Busca e Acharás - Outubro de 2000)

Dinheiro
De outra vez, escutamos o Chico respondendo a alguém que o interpelara quanto ao dinheiro dos livros, ponderando que as editoras deveriam conceder-lhe parte de suas rendas:

Chico Xavier:
- Não é nada, mas, o dia que eu aceitar pelo menos um tostão do produto da venda de qualquer livro desses, deixarei de ser Chico Xavier, ou seja: menos do que nada!
(Poucas pessoas conviveram tão intimamente com Chico Xaviercomo Carlos Antônio Baccelli, de Uberaba Jornal O Ideal - Nº 56 - Janeiro de 2000 - Chico no Lápis de Baccelli.)

Um grupo de amigos conversava perto de Chico sobre o difícil problema do relacionamento humano e de como acertar nos serviços de assistência social, quando ele saiu-se com esta:

Chico Xavier:
- Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo. (Jornal Busca e Acharás - Junho de 2000)

Dentro da Doutrina Espírita, como se explicam as mortes, assim aos milhares, em guerras, enchentes, em toda espécie de catástrofe?

Chico Xavier:
- São essas provações, que coletivamente adquirimos do ponto de vista de débitos cármicos. As vezes empreendemos determinados movimentos destrutivos, em desfavor da comunidade ou do indivíduo, às vezes operamos em grupo, às vezes, em vastíssimos grupos e, no tempo devido, os princípios cármicos amadurecem, e nós resgatamos as nossas dívidas, reunindo-nos uns com os outros, quando estamos acumpliciados nas mesmas culpas, porque a Lei de Deus é a Lei de Deus, formada de justiça e de misericórdia.
( Livro: "Chico Xavier - Dos Hippies aos problemas do mundo )

Estávamos com um amigo em Belo Horizonte e esse amigo queria conhecer as belas mansões de Pampulha. Chico Xavier, esse amigo e eu tomamos um automóvel e começamos a contornar o famoso e lindo lago da capital mineira, contemplando as formosas casas residenciais.
O amigo perguntou ao médium: — Chico, você não tem inveja dos moradores desses lindos palácios?
Chico Xavier:
— Naturalmente que os moradores dessas mansões são todos excelentes amigos, gente muito boa de nossa terra, mas não tenho inveja deles, porque se todos nós temos que desencarnar um dia e largar tudo o que temos neste mundo, por que havemos de sentir inveja uns outros?
Penso que cada um de nós está no lugar onde está o trabalho que Deus nos manda fazer.
(Depoimento de Nena e Francisco Galves à Marlene Nobre em pequena História de Uma Grande vida”, 1977) Informativo do GEAL - Boletim mensal - Dezembro 1995 Ano v - No 6)

Qual a melhor atitude da mulher que trabalha fora e, por questão de formação ou oportunidade, se sobressai mais que o marido?

Chico Xavier:
- A mulher precisa de muito tato, humildade e necessita ser fiel cooperadora no progresso do esposo, abstendo-se de falar em casa ou em público com relação à sua superioridade ante o companheiro, às vezes ansioso por encontrar uma promoção digna no trabalho a que se vincula por dever de família.(Jornal Busca e Acharás - Agosto de 2000)

Certa senhora, presidente de uma grande instituição de caridade, desencarnara e o amigo que ficou em seu lugar pediu-me perguntar ao Chico se ele estava preparado para assumir aquela tarefa. Eis a resposta:

Chico Xavier:
- Nenhum de nós está preparado para realizar a Obra do Cristo. Mas isso não é motivo para fugirmos do trabalho e permanecermos na inércia, e sim trabalhar, oferecendo ao Senhor o que temos de melhor. Isto porque ainda não somos anjos e sim criaturas humanas, que precisam trabalhar na Obra de Jesus, à qual devemos oferecer o que tenhamos de melhor.

Um grande amigo tinha recebido uma considerável indenização e não sabia como aplicar o dinheiro. Estávamos em Uberaba e eu lhe disse:
-Por que você não pergunta ao Chico?
Ele assim o fez. Vejamos a resposta:

Chico Xavier:
- O Espírito Emmanuel ensina que há um provérbio espanhol que diz:
“Não carregues o teu tesouro numa só nau”.

Meu amigo diversificou o investimento e, pelo que sei, está bem até hoje.
(Jornal Busca e Acharás - Outubro de 2000)

Chico, o homem pode voltar na condição de mulher na reencarnação imediata e vice-versa?

Chico Xavier:
- É perfeitamente possível. Kardec deixou o assunto para interpretação a nosso bel-prazer. O homem, por vezes, precisará voltar na posição de mulher para desenvolver sentimentos que ele persiste, de modo particular, em recusar; e a mulher na posição de homem, para consolidar os méritos da renúncia, da humildade e do sacrifício aos quais tenha sido indiferente ou deixado de exercitar na condição mais propícia de mulher. (Jornal Busca e Acharás - Agosto de 2000)

"Certa feita uma senhora, ás voltas com complicada família, marido e filhos agressivos que infernizavam sua vida, reclamava com Chico Xavier.
Não suportava mais, Estava prestes a explodir.
- Minha filha - dizia o abnegado médium -, Jesus recomendou que perdoemos não sete vezes, mas setenta vezes sete.
- Olhe Chico, tenho feito as contas. Perdoei meus familiares bem mais que quatrocentos e noventa vezes. Já fiz o suficiente...
Chico Xavier:
- Bem, minha filha, Emmanuel está ao meu lado e manda dizer-lhe que é para perdoar setenta vezes sete cada tipo de ofensa. “Ainda há muito a perdoar”.
"Perdoar os inimigos é pedir perdão para si mesmo; perdoar os amigos é uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se tornou melhor".
(Izaías Claro - BIS - Boletim Informativo Seara - Ano II Nº 20)

Resposta de Chico Xavier a uma pessoa que, ao observar os necessitados tomando sopa, lhe perguntou:
- O senhor acha que um prato de sopa vai resolver o problema da fome no mundo?
Chico, sem titubear responde:
Chico Xavier:
- O banho também não resolve o problema da higiene no mundo, mas nem por isso podemos dispensá-lo. (Busca e Acharás - Junho de 200)

Qual a maior prova concreta que Francisco Cândido Xavier aponta sobre a reencarnação?

Chico Xavier:
- A lógica para compreendermos a desigualdade no campo das criaturas humanas. Por que é que uns renascem sofrendo em condições muito mais difíceis do que os outros? Não podemos admitir a injustiça divina! Deus é a justiça suprema. Portanto, nós devemos a nós mesmos a conseqüência dos nossos desajustes. Se eu pratiquei um crime, se lesei alguém, é natural que não tendo pago a minha dívida moral, durante o espaço curto de uma existência, é justo que eu faça esse resgate em outra existência, porque de outro modo, compreenderíamos Deus como um ditador, distribuindo medalhas para uns e chagas para outros, o que é inadmissível".

Sem procedência

O que essa convivência estreita com os Espíritos lhe tem ensinado de mais importante?
Chico Xavier:
- “Creio que a matéria mais importante que recolhi da convivência diária com os Amigos Espirituais, durante 60 anos, é a que julgo seja o meu relacionamento com os meus semelhantes.“Tendo saído de um curso primário que não me proporcionava naturalmente qualquer diretriz psicológica para compreender as outras pessoas, o tato e a caridade que os Espíritos Amigos me ensinaram para guardar o respeito que devo ao próximo e que preciso manter para a minha paz íntima, na essência, foram e ainda são os melhores recursos que recebi da convivência com eles, para me relacionar com os irmãos da caminhada humana. Isso porque me cabe aceitá-los como são, dosando a verdade em qualquer diálogo que se faça necessária, sem feri-los e sem prejudicá-los.
Dizem os Amigos Espirituais que as atitudes de apreço e tolerância construtiva para com as criaturas, sejam como sejam, nos fazem ver que precisamos da cooperação delas, em nosso próprio benefício.”

(Revista Espírita -Nº 1)

Era uma agradável tarde de sábado e estávamos na ecumênica área da casa do Chico, quando alguém lhe disse:
- Chico, fale-nos sobre Meimei. Sua fala mansa e agradável começou a penetrar-nos os ouvidos:
Chico Xavier:
- É um Espírito que tem trabalhado muito. lembro-me quando ela precisou encaminhar seu ex-esposo, que andava muito triste para o segundo matrimônio. Quando a data do casamento estava próxima, ela começou a sentir um pouco de ciúmes e desejou voltar para junto dele. “Como esposa, não dá mais tempo. Mas, como filha, ainda posso” – pensou ela.
- Fez a solicitação, mas por sorte ou azar dela, seu requerimento foi parar nas mãos de nosso caro Emmanuel. Ele a chamou e disse: “ Suas horas de trabalho falam alto a seu favor. A senhora tem méritos suficientes para nascer como filha de sue ex-esposo, mas por que, então, a senhora sensibilizou tantos corações com suas mensagens, levantando creches e lares para crianças ? Deseja deixar o trabalho sobre os ombros dos companheiros e volta à Terra por uma simples questão de ciúmes? “Posso encaminhar seu requerimento às Autoridades Superiores, mas quero que a senhora fique bem certa de que ele vai sair daqui com o primeiro não, que é o meu.”
- Desde então Meimei desistiu da idéia e continua no Mundo Espiritual, graças a Deus.
(Do livro Chico, de Francisco Autor Adelino da Silva__ Ed. Céu).

Ante as lutas que surgiram ao longo do tempo, algumas vezes chegou a pensar em viver a sua própria vida, deixando a mediunidade?

Chico Xavier:

- “No princípio das tarefas, estranhei a disciplina a que devia submeter-me. Fiquei triste ao imaginar que eu era uma pessoa rebelde e, nesse estado de quase depressão, certa feita me vi, fora do corpo, observando um burro teimoso puxando uma carroça que transportava muitos documentos.
Notei que o animal, embora trabalhando, fitava com inveja os companheiros da sua espécie que corriam livremente no pasto, mas viu igualmente que muitos deles entravam em conflitos, dos quais se retiravam com pisaduras sanguinolentas.
O burro começou a refletir que a vida livre não era tão desejada como supusera, de começo. A viagem da carroça seguia regularmente, quando ele se reconheceu amparado por diversas pessoas que lhe ofereciam alfafa e água potável.Finda a visão-ensinamento, coloquei-me na posição do animal e compreendi que, para mim, era muito melhor estar sob freios disciplinares, do que ser livre no pasto da vida, para escoicear companheiros ou ser por eles escoiceado”. ( Anuário Espírita (1988)

Que pensar da situação do doador de órgãos, no momento da morte, uma vez que seu instrumento físico se viu despojado de parte importante?

Chico Xavier:
– É o mesmo que sucede com uma criatura que cede seus recursos orgânicos a um estudo anatômico, sem qualquer repercussão no espírito que se afasta – vamos dizer de sua cápsula material.
O nosso André Luiz considera, excetuando-se determinados casos por mortes em acidentes e outros casos excepcionais, em que a criatura necessita daquela provação, ou seja, sofrimento intenso no momento da morte, esta de um modo geral não traz dor alguma porque a demasiada concentração do dióxido de carbono no organismo determina anestesia do sistema nervoso central, diz ele.
Estou falando como médium, que ouve esses amigos espirituais: não que eu tenha competência médica para estar aqui, pronunciando-me em termos difíceis.
Eles explicam que o fenômeno da concentração do gás carbônico no organismo alteia o Ter da anestesia do sistema nervoso central provocando um fenômeno que eles chamam de acidose. Com a acidose vem à insensibilidade e a criatura não tem estes fenômenos de sofrimento que nós imaginamos. O doador, naturalmente, não tem, em absoluto, sofrimento algum. (
Jornal Evangelho e Ação – Janeiro de 2001 )

O Poder da Oração

Chico Xavier:
- Fui criado acreditando no poder da oração. Devo isto às duas mães que o Senhor me concedeu. A nossa carência era tão grande, que nos sentíamos compelidos a tudo esperar do Alto; muitas vezes, não tínhamos o que comer. O trabalho era escasso. O meu pai, que vendia bilhetes de loteria, passava muitos dias sem vender uma tira... Os vizinhos nos socorriam. A solidariedade dos mais pobres me marcou profundamente o espírito.
( Do livro "Orações de Chico Xavier", do escritor Carlos A. Baccelli, editado em abril de 2003, pela Livraria Espírita Edições "Pedro e Paulo", sendo que os seus direitos autorais foram doados às obras assistenciais do Lar Espírita "Pedro e Paulo". Uberaba - MG )

No seu modo de entender, como se situa o Espiritismo no Brasil?

Chico Xavier:
- Desde muito, os instrutores desencarnados nos ensinam, por via mediúnica, que o Espiritismo no Brasil é realmente a Doutrina Codificada por Allan Kardec, restaurando os ensinamentos de Jesus, em sua simplicidade e clareza. Enquanto em muitos países diferentes do nosso, a prática espírita se resume a observações puramente científicas e a técnicas mediúnicas, entre nós, brasileiros, o assunto assume características diversas, compreendendo-se que o reconhecimento da imortalidade da alma faz-se acompanhar de conseqüências morais a que não nos será lícito fugir. Aprendemos com Allan Kardec que a Doutrina Espírita é a presença espiritual de Nosso Senhor Jesus Cristo na Terra, conclamando-nos à vivência real dos seus ensinamentos de luz e amor. Em razão disso, o Espiritismo no Brasil é a caridade em ação com a fé raciocinada baseando-lhe as iniciativas e movimentos. Consultemos o acervo das instituições assistenciais do Espiritismo Cristão, espalhadas no Brasil inteiro e observemos a difusão das obras de Allan Kardec, em todo o nosso País, com a supervisão e o devotamento da Federação Espírita Brasileira e ser-nos-á fácil reconhecer em nosso desenvolvimento coletivo a presença do Espiritismo em sua legítima expressão, a definir-se como sendo o retorno das criaturas ao Cristianismo simples e puro.

Justamente por ocasião do seu quadragésimo aniversário em mediunidade, em 1967, Chico Xavier foi ouvido pelo jovem radialista Romeu Sérgio, que lhe formulou algumas indagações, respondidas, para figurarem num programa de grande audiência na Rádio Cultura da cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, de onde pinçamos essa opinião.
Do livro de Elias Barbosa, No Mundo de Chico Xavier, editado pelo Instituto de Difusão Espírita, de Araras, SP.

Estimaríamos colher a sua opinião a respeito dos últimos conflitos que colocaram em perigo a Paz Mundial...

Chico Xavier:
- Atentos aos nossos deveres de ordem doutrinária, já que o Espiritismo é a religião de Jesus, endereçada ao burilamento e confraternização dos homens, não seria cabível viéssemos a analisar os conflitos atuais do mundo, sob o ponto de vista político. Essa tarefa, na opinião de Emmanuel, o dedicado orientador espiritual que nos dirige as atividades, compete aos mentores encarnados da vida internacional.
Todos nós, os religiosos de todos os climas, nos reconhecemos atualmente defrontados por crises de insatisfação em quase todos os domínios da Humanidade, e, por isso mesmo, segundo as instruções que recebemos dos benfeitores espirituais, a nossa melhor atitude é a da prece, em favor dos líderes das nações, rogando a Deus os ilumine e guie, a fim de que todos eles se unam, no respeito às leis que o progresso já nos confiou, evitando nova grande
guerra, cujos efeitos calamitosos, não conseguimos prever, nem calcular.
(Do livro de Elias Barbosa, No Mundo de Chico Xavier, editado pelo Instituto de Difusão Espírita, de Araras, SP)

Disse você que sentia fenômenos mediúnicos desde criança. Poderia especificá-los?
Chico Xavier:
- Sim. No quintal da casa em que eu morava, via freqüentemente minha mãe desencarnada em 1915 e outros Espíritos, mas as pessoas que me cercavam então não conseguiam compreender minhas visões e notícias, e acreditavam francamente que eu estivesse mentindo ou que estivesse sob perturbação mental.
Como experimentasse muita incompreensão, cresci debaixo de muitos conflitos íntimos, porque de um lado estavam as pessoas grandes que me repreendiam ou castigavam, supondo que eu criava mentiras e do outro lado estavam as entidades espirituais que perseveravam comigo sempre. Disso resultou muita dificuldade mental para mim, porque eu amava os espíritos, mas não queria vê-los para não sofrer punições por parte das pessoas encarnadas com quem eu precisava viver.
(Trecho extraído de uma entrevista dada em 1977 à Revista Informação, publicada pelo Grupo Espírita "Casa do Caminho", de São Paulo, Capital, há mais de 26 anos, e que em sua mensagem da capa da edição 317, de março de 2003.
Tv Manchete)


- Por que pessoas que fazem tanto bem para a Humanidade, como a Irmã Dulce, tem uma morte tão sofrida?

Chico Xavier:
- Lembrando com muito respeito e reconhecimento a Irmã Dulce, nossa patrícia, nós perguntamos: E por que o sofrimento de Jesus no lenho? Ele era o guia da Humanidade e, a bem dizer, um anjo protetor da comunidade humana. É que nós necessitamos de uma interpretação mais exata do sofrimento em nosso caminho diário. Creio que todos nós devemos pagar o tributo da evolução, no agradecimento à Divina Providência dos bens que desfrutamos. E nesse particular, se é possível, eu peço licença para recordar o meu próprio caso.
Eu sempre tive uma vida normal, como a de tantos seres humanos. Entretanto, com uma labirintite que me apanhou há 3 anos, sou agora praticamente um paraplégico, porque tenho as minhas pernas constantemente doloridas e inúteis. Mas reconheço que estou com 82 anos de existência física, a caminho dos 83, tenho muita alegria de viver e tenho muita satisfação pela oportunidade de conhecer uma doença que me priva da vida natural de intercâmbio com os próprios familiares.

Um paraplégico que se habituou a usar muletas nos visitou há dias e me perguntou: “Chico Xavier, eu sou um leitor das páginas mediúnicas que você tem recebido...
Indago a você por que é que Emmanuel, um Espírito benemérito; por que é que André Luiz, um médico de altos conhecimentos; por que é que Meimei, uma irmã que foi a professora devotada da infância e da mocidade; por que é que o Dr. Bezerra de Menezes, que continua sendo, na Vida Maior, um médico do mais elevado gabarito e que é seu amigo - por que é que eles não curam você?
“Eu disse assim:
“Meu amigo, graças a Deus, eu não me sinto com privilégio algum...
A mediunidade não me exime das vicissitudes e das lutas naturais de qualquer pessoa dos nossos grupos sociais". Penso que essa moléstia tão longa e tão difícil é um ensinamento de que eu necessito, porque, quando chegar à Vida Espiritual, breve como espero, e algum Instrutor me perguntar: "Chico Xavier, você nunca teve uma moléstia grave que durasse longo tempo?...”
Eu vou dizer:
"Sim, fiz 80 anos e, depois do dia em que completei 80 anos, começou a defasagem do meu corpo físico..."
Mas isto é muito natural em qualquer pessoa, especialmente na pessoa idosa. É uma crucificação gradual e que eu necessito, para não ficar envergonhado no Além, quando eu chegar à convivência dos nossos irmãos já desencarnados...
Eu quero não sentir vergonha de nunca ter sofrido...
Mas para mim isto não é sofrimento. Tenho muitos bons amigos, cultivo a amizade com muito calor humano, gosto muito da vida e sei que vou continuar vivendo...
Se Jesus permitir, os médicos desencarnados lá me ofertarão, talvez, quem sabe? Alguma melhora ou, se a doença continuar, eu devo saber que é a Vontade de Deus, é o Desígnio Divino que nos deu a felicidade da vida...
Então, eu estou aqui com vocês na maior alegria e creio que nenhum escutou de mim qualquer queixa, porque estou muito bem. Não me falta alimentação, não me falta medicina, os médicos amigos me tratam estudando a moléstia com muita atenção, me proporcionando as melhoras possíveis...
E eu continuo há 2 anos na condição de paraplégico, mas estou muito feliz e, creio eu, estou muito longe da grandeza espiritual da Irmã Dulce, não tenho nada a me queixar, e sim agradecer; eu creio que ela também terá sentido muita felicidade ao se ver libertada do corpo doente. Se ela puder - eu compreendo -, e, sendo possível, ela nos auxiliará.


(Transcrição Parcial da entrevista concedida à TV Manchete, de Uberaba, Minas, em 11 de maio de 1992-Anuário Espírita – 1999)

COMPAIXÃO

Chico Xavier:
- Sem compaixão uns pelos outros, a vida no mundo estará comprometida. Precisamos respeitar as pessoas, os animais - nossos irmãos menores -, as árvores, os rios...
A Terra é um palácio de beleza!
A Natureza é exuberante...
As estações do ano que se sucedem - cada uma tem uma beleza peculiar; a época de floração, do acasalamento dos pássaros, a temporada das chuvas, quando, então, tudo fica mais verde ainda...
À noite, temos estrelas no firmamento, a brisa que sopra mansamente...
Tudo isto é uma riqueza!
Somos ricos no Amor de nosso Pai!...
(Do livro "Orações de Chico Xavier", do escritor Carlos A. Baccelli, editado em abril de 2003, pela Livraria Espírita Edições "Pedro e Paulo", sendo que os seus direitos autorais foram doados às obras assistenciais do Lar Espírita "Pedro e Paulo". Uberaba - MG)

Existem pessoas que têm acorrido a todos os recursos terrenos e espirituais na esperança de uma cura para sua enfermidade, e não tendo resolvido seu problema, acabam chegando à descrença. Mesmo sem fé, muitas vezes ainda procuram você como um recurso. Essas pessoas podem chegar a receber uma cura?

Chico Xavier:
- Acredito que, se a pessoa está no merecimento natural da cura, tenha ela fé ou não tenha fé, a misericórdia divina permite que essa criatura encontre a restauração de suas forças.
Isso em qualquer religião, ou em qualquer tempo; agora, os espíritos nos aconselham um espírito de aceitação. Primeiramente, em qualquer caso de doença que possa ocorrer em nós, em nosso mundo orgânico, o espírito de aceitação, torna mais fácil ao médico deste mundo ou para os benfeitores espirituais do outro, atuarem em nosso favor.
Agora, a nossa aflição ou a nossa inquietação, apenas perturbam os médicos deste mundo ou do outro, dificultando a cura. E podemos ainda acrescentar: que muitas vezes temos conosco determinados tipos de moléstias, que nós mesmos pedimos, antes de nossa reencarnação, para que nossos impulsos negativos ou destrutivos sejam amainados.
Muitas frustrações que sofremos neste mundo são pedidas por nós mesmos, para que não venhamos a cair em falhas mais graves do que aquelas que já caímos em outras vidas. Mas, como estamos num regime de esquecimento - como uma pessoa anestesiada para sofrer uma operação - então demandamos em rebeldia, em aflição desnecessária, exigindo uma cura, que se tivermos, será para nossa ruína, não para o nosso benefício.
(De uma entrevista dada à Revista Destaque, em Outubro de 1977.
Consta do livro Chico Xavier - O Homem, o Médium e o Missionário, escrito por Antônio Matte Noroefé, de Cacequi, Rio Grande do Sul.)

Que mensagem você gostaria de aqui deixar para os iniciadores da construção do Terceiro Milênio?
Chico Xavier:
- Prezado amigo, se eu dispusesse de autoridade rogaria aos homens que estão arquitetando a construção do Terceiro Milênio, para colocarem no portal da Nova Era as inolvidáveis palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei".
(De uma entrevista dada ao jornal "O Povo", de Fortaleza, Ceará, em 09.03.1981.
Consta do livro Chico Xavier - O Homem, o Médium e o Missionário, escrito por Antônio Matte Noroefé, de Cacequi, Rio Grande do Sul.)


Lutas íntimas

Chico Xavier:
- Peço sempre aos Bons Espíritos que me auxiliem com as minhas lutas; todos precisamos das dificuldades para crescer...
Não devemos orar para que não tenhamos problemas, mas, sim, para que eles não nos embaracem... A luta é necessária. Quem ora com a idéia de se isentar das provas ora sem compreensão do espírito da prece...

(Do livro "Orações de Chico Xavier", do escritor Carlos A. Baccelli, editado em abril de 2003, pela Livraria Espírita Edições "Pedro e Paulo", sendo que os seus direitos autorais foram doados às obras assistenciais do Lar Espírita "Pedro e Paulo". Uberaba - MG)

Solicitado a opinar sobre o sexo, Francisco Cândido Xavier ensejou-nos nova e amorável mensagem:

Chico Xavier:
- Acreditamos que o compromisso sexual entre duas pessoas deve ser profundamente respeitado. Uma terceira pessoa em qualquer compromisso sexual é uma dificuldade a superar, porque não podemos esquecer que a lesão sentimental é, talvez, mais importante do que uma lesão física.
E alguém que prometeu amor a alguém deve se desincumbir deste compromisso com grandeza de pensamento e sem qualquer insegurança.
Não compreendemos a promiscuidade. Mas entendemos perfeitamente o relacionamento de alma para alma, com respeito que nós todos devemos uns aos outros."
Fonte: "O Espírita Mineiro". Número 179, julho/agosto/setembro de 1979. Publicado no livro CHICO XAVIER - MANDATO DE AMOR, editado abril/1993 pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais

Há uma preocupação mundial por uma nova ordem econômica e social no mundo (inclusive o Papa João Paulo II já chegou a pedi-la ao presidente Jimmy Carter). Em sua opinião, para onde caminha a Humanidade?
Haverá responsabilidade de, em breve, atingirmos um grau de igualdade e fraternidade entre os homens?

Chico Xavier:

- Creio que mesmo que isto nos custe muitos sofrimentos coletivos, nós chegaremos até a confraternização mundial.
As circunstâncias da vida na Terra nos induzirão a isso e nos conduzirão para essa vitória de solidariedade humana.
Não é para outra coisa que o Cristianismo, nas suas diversas interpretações, dentro das quais está a nossa faixa de doutrina espírita militante, terá nascido, não é? Eu creio que acima de nossas governanças, todas elas veneráveis, temos o Governo de poderes maiores que nos inspira e que, naturalmente, nos enviará recursos para que essa vitória da fraternidade universal se verifique.

(Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais. )


EMMANUEL

Chico Xavier:
- Explicando. . . Lembro-me de que, em 1931, numa de nossas reuniões habituais, vi a meu lado, pela primeira vez, o bondoso Espírito Emmanuel.
Eu psicografava, naquela época, as produções do primeiro livro mediúnico, recebido através de minhas humildes faculdades e experimentava os sintomas de grave moléstia dos olhos.
Via-lhe os traços fisionômicos de homem idoso, sentindo minha alma envolvida na suavidade de sua presença, mas o que mais me impressionava era que a generosa entidade se fazia visível para mim, dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de uma cruz.
Às minhas perguntas naturais, respondeu o bondoso guia:
- "Descansa! Quando te sentires mais forte, pretendo colaborar igualmente na difusão da filosofia espiritualista. Tenho seguido sempre os teus passos e só hoje me vês, na tua existência de agora, mas os nossos espíritos se encontram unidos pelos laços mais santos da vida e o sentimento afetivo que me impele para o teu coração tem suas raízes na noite profunda dos séculos."
Essa afirmativa foi para mim imenso consolo e, desde essa época, sinto constantemente a presença desse amigo invisível que, dirigindo as minhas atividades mediúnicas, está sempre ao nosso lado, em todas as horas difíceis, ajudando-nos a raciocinar melhor, no caminho da existência terrestre. A sua promessa de colaborar na difusão da consoladora Doutrina dos Espíritos tem sido cumprida integralmente.
Desde 1933, Emmanuel têm produzido, por meu intermédio, as mais variadas páginas sobre os mais variados assuntos. Solicitado por confrades nossos para se pronunciar sobre esta ou aquela questão, noto-lhe sempre o mais alto grau de tolerância, afabilidade e doçura, tratando sempre todos os problemas com o máximo respeito pela liberdade e pelas idéias dos outros.
Convidado a identificar-se, várias vezes, esquivou-se delicadamente, alegando razões particulares e respeitáveis, afirmando, porém, ter sido, na sua última passagem pelo planeta, padre católico, desencarnado no Brasil.
Levando as suas dissertações ao passado longínquo, afirma ter vivido ao tempo de Jesus, quando então se chamou Públio Lêntulos.
E de fato, Emmanuel, em todas as circunstâncias, tem dado a quantos o procuram os testemunhos de grande experiência e de grande cultura.
Para mim, tem sido ele de incansável dedicação. Junto do Espírito bondoso daquela que foi minha mãe na Terra, sua assistência tem sido um apoio para meu coração nas lutas penosas de cada dia.
Muitas vezes, quando me coloco em relação com as lembranças de minhas vidas passadas e quando sensações angustiosas me prendem o coração, sinto-lhe a palavra amiga e confortadora.
Emmanuel leva-me, então, às eras mortas e explica-me o grande e pequeno por que das atribulações de cada instante. Recebo invariavelmente, com a sua assistência, um conforto indescritível, e assim é que renovo minhas energias para a tarefa espinhosa da mediunidade, em que somos ainda tão incompreendidos.
Alguns amigos, considerando o caráter de simplicidade dos trabalhos de Emmanuel, esforçaram-se para que este volume despretensioso surgisse no campo da publicidade.
Entrar na apreciação do livro, em si mesmo, é coisa que não está na minha competência. Apenas me cumpria o dever de prestar ao generoso guia dos nossos trabalhos a homenagem do meu reconhecimento, com a expressão da verdade pura, pedindo a Deus que o auxilie cada vez mais, multiplicando suas possibilidades no mundo espiritual, e derramando-lhe n´alma fraterna e generosa as luzes benditas do seu infinito amor.


(Prefacio do livro “Emmanuel - Dissertações Mediúnicas Sobre Importantes Questões Que Preocupam a Humanidade” Escrito em 16 de setembro de 1937, para o lançamento de sua primeira edição pela Federação Espírita Brasileira em 1938.)

Instado a opinar também sobre os vícios, o médium ensejou-nos novos e importantes esclarecimentos:


Chico Xavier:
- Não entendemos o vício como sendo um problema de criminalidade, mas como um problema de desequilíbrio nosso, diante das leis da vida. E isto não apenas no terreno em que o vício é mais claramente examinado.
Por exemplo: se falamos demasiadamente, estamos viciados no verbalismo excessivo e infrutífero. Se bebemos café excessivamente, estamos destruindo também as possibilidades do nosso corpo nos servir. Quando falamos a palavra vício, habitualmente logo nos recordamos do sexo.
Mas do sexo herdamos nossa mãe, nosso pai, lar, irmãos, a bênção da família. Tudo isto recebemos através do sexo. No entanto, quando falamos em vício, lembramo-nos do fogo do sexo e o tóxico... Mas tóxico é outro problema para nossos irmãos que se enfraqueceram diante da vida, que procuram uma fuga. Não são criminosos. São criaturas carentes de mais proteção, de mais amor. Porque se os nossos companheiros enveredaram pelo caminho do tóxico, eles procuraram esquecer algo. E esse algo são eles mesmos.
Então, precisávamos, talvez, reformular nossas concepções sobre o vício.
Há pouco tempo, perguntamos ao espírito de Emmanuel como é que ele definia um criminoso.
Ele nos disse: "O criminoso é sempre um doente, mas se ele for culpado, só deve receber esse nome depois de examinado por três médicos e três juízes".
(Fonte: "O Espírita Mineiro", número 179, julho/agosto/setembro de 1979. Publicado no livro CHICO XAVIER - MANDATO DE AMOR, Editado abril/1993 pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais)

A Doutrina Espírita é acusada de, ao se preocupar somente com a vida no além, ajudar a manter o sistema político vigente, por não se preocupar com o progresso material e político do homem na Terra.
O que acha?

Chico Xavier:

- É muito interessante isso, mas não desejamos abusar, desprestigiar, desprimorar mesmo a figura de Jesus Cristo. É importante considerar que Jesus cogitou muito da melhora da criatura em si.
Auxiliou cada companheiro no caminho a ter mais fé, a amar os seus semelhantes, ensinou os companheiros a se entre-ajudarem, de modo que nós vimos Jesus sempre preocupado com o homem, com a alma.
Não nos consta que ele tivesse aberto qualquer processo de subversão com o Império Romano, nem mesmo contra a Palestina ocupada.
Então, o espírita não é propriamente uma pessoa conformada do ponto de vista negativo. Conformismo em Doutrina Espírita tem o sinônimo de paciência operosa. Paciência que trabalha sempre para melhorar as situações e cooperar com aqueles que recebem a responsabilidade da administração de nossos interesses públicos.
Em nada nos adiantaria dilapidar o trabalho de um homem público, quando nosso dever é prestigiá-lo e respeitá-lo tanto quanto possível e também colaborar com ele para que a missão dele seja cumprida. Porque é sempre mais fácil subverter as situações e estabelecer críticas violentas ou não em torno de pessoas.
Nós precisamos é da construtividade.
Não que estejamos batendo palmas para esse ou aquele, mas porque devemos reverenciar o princípio da autoridade, porque sem disciplina não sei se pode haver trabalho, progresso, felicidade, paz ou alegria para alguém. Veja a natureza: se o sol começasse a pedir privilégios e se a Terra exigisse determinadas vantagens, o que seria de nós com a luz e o pão de cada dia?

(Esta entrevista faz parte de um extenso trabalho de reportagem dos jornalistas Airton Guimarães e José de Paula Cotta, do jornal "Estado de Minas", publicado nas edições de 8, 9, 10 e 12 de julho de 1980. Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais. )

Então o senhor não acredita no Apocalipse previsto por Nostradamus e outros videntes para o ano 2.000?

Chico Xavier:
- Respeito os estudos sobre o Apocalipse, mas não tenho ainda largueza de pensamento para interpretar o Apocalipse como determinados técnicos o interpretam e situam.
Mas, acima do próprio Apocalipse, eu creio na bondade eterna do Criador que nos insuflou a vida imortal.
Então, acima de todos os apocalipses, eu creio em Deus e na imortalidade humana e essa duas realidades preponderarão em qualquer tempo da Humanidade.

(Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais. )

Inimigos da Prece

Chico Xavier:
- Existem espíritos inimigos da prece - são aqueles que não acreditam na Paternidade Divina. Assemelham-se às terras desertas onde nada cresce... Somente a Misericórdia do Senhor poderá transformá-los. São espíritos doentes, que deverão ser tratados em sucessivas internações no corpo de carne. (Do livro "Orações de Chico Xavier", do escritor Carlos A. Baccelli)

O mal nunca vencerá o bem?

Chico Xavier:
- O bem sanará o mal, porque este não existe: é o bem, mal interpretado. Muitas vezes aquilo que julgamos como mal, daqui a dois, quatro, seis anos, é um bem. Um bem cuja extensão não conseguimos avaliar. Portanto, o mal está muito mais na nossa impaciência, no nosso desequilíbrio quando exigimos determinadas concessões, sem condições de obtê-las. De modo que o mal é como se fosse o frio. Este existe porque o calor ainda não chegou. Mas chegando o aquecimento, o frio deixa de existir.
Se a treva aparece é porque a luz está demorando, mas quando acendemos a luz ninguém pensa mais nas trevas. Não creio na existência do mal em substância. Isso é uma ficção.

(Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais. )

Pode-se afirmar que todos os homens que habitam hoje a Terra já tiveram uma experiência anterior de vida?

Chico Xavier:


- Todos os que estão acima da inteligência sub-mediana são espíritos reencarnados. Agora, os espíritos nos explicam que aquelas criaturas demasiadamente primitivas, que às vezes nem mesmo se deslocam para o serviço de auto-alimentação, essas criaturas estarão talvez na primeira experiência de existência humana. Mas, desde que a criatura já nasça com determinadas tendências, essas revelam que as pessoas já viveram em outras fases, em outras instâncias. (Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais.)

Como se explica que o mundo tivesse no ano de 1500, vamos supor, 500 milhões de habitantes e agora, no limiar do ano 2.000, estarmos com uma população em torno de 4 bilhões de pessoas?


Chico Xavier:
- O próprio Jesus disse: "A casa de meu Pai tem muitas moradas."
Então, se nós limitarmos a nossa visão a apenas uma unidade física, estaremos limitados em nossos raciocínios. Mas ocorre que a região chamada crosta terrestre é cercada por várias áreas habitadas por inteligências junto das quais ainda não temos acesso preciso. Nós acreditamos, juntamente com os amigos espirituais, que a população flutuante da Terra vai para mais de 20 bilhões, isto só a população desencarnada.

(Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais.)

Atualmente, fala-se muito nos contatos de seres extraterrenos.
O senhor acredita na existência de discos voadores?

Chico Xavier:
- Eu acredito que existem naves interplanetárias. Mas o assunto é um tanto quanto difícil, porque pertence ao campo da ciência.
Nós não podemos ignorar que, depois da Segunda Guerra Mundial, as superpotências experimentaram determinadas máquinas, mormente máquinas voadoras, naturalmente com segredos de Estado que são compreensíveis. Possivelmente, teremos máquinas de formas esféricas para voar e concorrer com nossos aviões, com nossos "Concordes" e talvez estejam esperando a hora certa para surgir.
Se entrarmos aí numa contenta sobre discos voadores, que dependem de outros mundos, de outras regiões de nossa galáxia, e se as sedes desses engenhos não permitirem que eles venham visitar a Terra durante muito tempo e aparecerem às máquinas esféricas das superpotências, então com que rosto vamos aparecer?
Vamos deixar que a ciência resolva este problema. (
Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais. )

O que poderá acontecer ao mundo se continuarem as atuais agressões à natureza?

Chico Xavier:
- Acontece que estamos agredindo, não a natureza, mas a nós próprios e responderemos pelos nossos desmandos.
É importante pensar que se criou a Ecologia para prevenir estes abusos.
Aqueles que acreditarem na Ecologia acima de seus próprios interesses nos auxiliarão nessa defesa do nosso mundo natural, da nossa vida simples na Terra, que poderia ser uma vida de muito mais saúde e de muito mais tranqüilidade se nós respeitássemos coletivamente todos os dons da natureza.
Mas, se continuarmos agredindo-a demasiadamente, o preço será pago por nós próprios, porque depois voltaremos em novas gerações, plantando árvores, acalentando sementes, modificando o curso dos rios, despoluindo as águas, drenando os pântanos e criando filtros que nos libertem da poluição. O problema será sempre do homem.Teremos que refazer tudo, porque estamos agindo contra nós mesmos.
(Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais. )

Estuda-se no Brasil uma forma de legalização do aborto. Qual sua opinião?

Chico Xavier:
- O aborto é sempre lamentável, porque se já estamos na Terra com elementos anticoncepcionais de aplicação suave, compreensível e humanitária, porque é que havemos de criar a matança de crianças indefesas, com absoluta impunidade, entre as paredes de nossas casas?
Isto é um delito muito grave perante a Providência Divina, porque a vida não nos pertence e, sim, ao poder divino.
Se as criaturas têm necessidade do relacionamento sexual para revitalização de suas próprias forças, o que achamos muito justo seria melhor se fizessem sem alarme ou sem lesão espiritual ou psicológica para ninguém. Se o anticoncepcional veio favorecer esta movimentação das criaturas, por que vamos legalizar ou estimular o aborto?
Por outro lado, podemos analisar que se nossas mães tivessem esse propósito de criar uma lei do aborto no século passado, ou no princípio e meados deste século, nós não estaríamos aqui. (
Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais.)

De vez em quando aparece alguém que, em virtude de algum problema social mais grave - a violência, por exemplo, - pede a pena de morte. O senhor concorda?

Chico Xavier:
- A pena deveria ser de educação. A pessoa deveria ser condenada, mas é a ler livros, a se educar, a se internar em colégios ainda que seja, vamos dizer, por ordem policial.
Mas que as nossas casas punitivas, hoje chamadas de casas de reeducação, sejam escolas de trabalho e instrução.
Isto porque toda criatura está sentenciada à morte pelas leis de Deus, porque a morte tem o seu curso natural.
Por isso, acho que a pena de morte é desumana, porque ao invés de estabelecê-la devíamos coletivamente criar organismos que incentivassem a cultura, a responsabilidade de viver, o amor ao trabalho. O problema da periculosidade da criatura, quando ela é exagerada, esse problema deve ser corrigido com educação e isso há de se dar no futuro.
Porque nós não podemos corrigir um crime com outro, um crime individual com um crime coletivo. (
Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais. )

Qual a posição do Espiritismo, hoje, quando a Igreja amplia a evangelização, com a visita do Papa a várias regiões do mundo?

Chico Xavier:
- Nós, brasileiros, temos para com a Igreja Católica uma dívida irresgatável, porque por mais de 400 anos nós fomos e somos tutelados por ela na formação do nosso caráter cristão.
Quando nos lembramos que os primeiros missionários entraram pela terra brasileira adentro, não com laminas ou objetos de guerra, mas com a cruz de Cristo, nós nos enternecemos profundamente e compreendemos que a nossa dívida é imensa.
Se o nosso povo está tributando as homenagens merecidas e justas ao Papa, que nos visita em missão de Deus, nós devemos estar satisfeitos e rejubilar-nos com essas manifestações, porque isso mostra que nosso povo é reconhecido a uma instituição que nos deu e dá tanto.
Hoje, podemos ser livres pensadores espíritas, espiritualistas, evangélicos, podemos matricular nossos corações nas diversas escolas que são derivadas do próprio Cristianismo, mas não podemos esquecer aquele trabalho heróico dos primeiros tempos, dos primeiros séculos.
A Igreja até hoje tutela a comunidade brasileira, com muito amor.

(Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor,editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais.)

Nota-se de uns tempos para cá um interesse maior nas pessoas em conhecer alguma coisa do Espiritismo. Como o senhor vê essa situação?

Chico Xavier:
- Eu creio que o número de adeptos da Doutrina Espírita tem crescido em função das provas coletivas com que temos sido defrontados, acidentes dolorosos, provações muito difíceis, desvinculações familiares tremendas, transformações muito rápidas nos costumes sociais e tudo isso tem induzido a comunidade a procurar uma resposta espiritual a estes problemas que vão sendo suscitados pela própria renovação do nosso tempo.
Eu creio que, por isso mesmo, a Doutrina Espírita tenha alcançado este campo de trabalho cada vez mais amplo, que considero também não como êxito, mas como amplitude e responsabilidade para aqueles que são os companheiros da seara espírita e evangélica.
Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo
Horizonte, Minas Gerais.

Deve-se aceitar a lei do carma passivamente ou temos condições de modificá-la, talvez, para uma condição melhor?

Chico Xavier:
- Aquilo que ficou estabelecido como sendo nossa dívida é uma determinação que devemos pagar. Se comprei e assumi a dívida, devo pagar.
É o que consideramos destinação, é o carma.
Mas isso não impede a lei da criatividade com a qual nós podemos atuar todos os dias para o bem, anulando o carma, chamado de sofrimento.
Vamos supor que uma criatura está doente e precisa de uma intervenção cirúrgica. É o caso de perguntarmos: ela deve ou não se submeter à intervenção cirúrgica, o que tem todas as possibilidades de êxito?
Ela deve sim, deve preservar o seu próprio corpo, é um dever procurar a medicina e se valer do socorro médico para a reabilitação do seu próprio organismo. Então, aí está uma resposta a esta questão.
A misericórdia de Deus sempre nos proporciona recursos para pagar ou reformar os nossos títulos de débito, assim como uma organização bancária permite que determinadas promissórias sejam pagas com grandes adiantamentos, conforme o merecimento do devedor. Assim como temos grande número de amigos avalistas a nos tutelar nos Bancos, temos também os espíritos extraordinários que são os santos, os anjos, os nossos amigos espirituais que pedem por nós, que auxiliam que nos dão mais oportunidade para que a gente tenha mais tempo. Por isso que a pessoa deve cuidar bem de seu corpo, porque ele é a enxada com a qual a criatura está semeando e lavrando o terreno do tempo e das boas ações.
De modo que existe o carma, mas existe também o pensamento livre, porque nós somos livres por dentro da cabeça.
Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais.

A ação negativa do cigarro sobre o perispírito do fumante prossegue após a morte do corpo físico? Até quando?

Chico Xavier:
- O problema da dependência continua até que a impregnação dos agentes tóxicos nos tecidos sutis do corpo espiritual ceda lugar à normalidade do envoltório perispirítico, o que, na maioria das vezes, tem a duração do tempo correspondente ao tempo que o hábito perdurou na existência física do fumante. Quando a vontade do interessado não está suficientemente desenvolvida para arredar de si o costume inconveniente, o tratamento dele, no Mundo Espiritual, ainda exige quotas diárias de sucedâneos dos cigarros comuns, com ingredientes análogos aos cigarros terrestres, cuja administração ao paciente diminui gradativamente, até que ele consiga viver sem qualquer dependência do fumo. (Resposta de Emmanuel, através do Chico Xavier, dada a entrevista feita pelo jornalista Fernando Worm, em agosto de 1978, inserida no livro Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre).

Como descreveria a ação dos componentes do cigarro no perispírito de quem fuma?

Chico Xavier:
- As sensações do fumante inveterado, no Mais Além, são naturalmente as da angustiosa sede de recursos tóxicos a que se habituou no Plano Físico, de tal modo obsecante que as melhores lições e surpresas da Vida Maior lhe passam quase que inteiramente despercebidas, até que se lhe normalizem as percepções.
O assunto, no entanto, no capítulo da saúde corpórea deveria ser estudado na Terra mais atenciosamente, de vez que a resistência orgânica decresce consideravelmente com o hábito de fumar, favorecendo a instalação de moléstias que poderão ser claramente evitáveis.
A necropsia do corpo cadaverizado de um fumante em confronto com o de uma pessoa sem esse hábito estabelece clara diferença.

Entrevista feita pelo jornalista Fernando Worm, em outubro de 1978, inserida no livro Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre.

Nair Belo, no programa da Hebe, em janeiro de 1986, lamentou a existência de grande quantidade de jovens que estão fazendo uso de drogas, e perguntou ao médium o porquê desse desastre.

Chico Xavier:
- O tóxico é o irmão mais sofisticado da cachaça, através da qual também nós temos perdido muita gente.
A fascinação pelo tóxico é a necessidade de amor que o jovem tem. Mesadas grandes que não são acompanhadas de carinho e de calor humano paterno geram conflitos muito grandes.
Muitas vezes a privação do dinheiro, o trabalho digno e o afeto vão construir uma vida feliz.
(Extraído do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre.)

Se o senhor tivesse que dar uma mensagem a uma criança, ou mesmo a um filho, para que ele pudesse vencer espiritualmente na vida, o que diria?
Chico Xavier:
- Se eu tivesse um filho (tive na minha vida algumas crianças que cresceram sob a minha responsabilidade), ensinaria nos primeiros dias de vida desse filho o respeito à existência de Deus e o respeito à justiça e amor ao trabalho. E, em seguida, ensinaria que ele não seria, e não será, melhor do que os filhos dos outros. (Reportagem dos jornalistas Airton Guimarães e José de Paula Cotta, do jornal "Estado de Minas", publicado nas edições de 8, 9, 10 e 12 de julho de 1980.
Transcrito do livro Chico Xavier - Mandato de Amor, editado pela União Espírita Mineira - Belo Horizonte, Minas Gerais. )


Chico estamos diante de uma onda crescente de violência em todo o mundo.
A que os espíritos atribuem essa ocorrência?
Gostaria que você se detivesse também no problema dessa corrida da população às armas, para a defesa pessoal. Como você vê tudo isso?

Chico Xavier:
- Temos debatido esse problema com diversos amigos, inclusive com nossos benfeitores espirituais e eles são unânimes em afirmar que a solidão gera o egocentrismo e esse egocentrismo exagerado reclama um espírito de autodefesa muito avançado em que as criaturas, às vezes, se perdem em verdadeiras alucinações.
Então a violência é uma conseqüência do desamor que temos vivido em nossos tempos, conforto talvez excessivo que a era tecnológica nos proporciona. A criatura vai se apaixonando por facilidades materiais e se esquece de que nós precisamos de amor, paciência, compreensão e carinho. A ausência desses valores espirituais vai criando essa agressividade exagerada no relacionamento entre as pessoas ou entre muitas das pessoas no nosso tempo.
De modo que precisaríamos mesmo de uma campanha de evangelização, de retorno ao Cristianismo em sua feição mais simples para que venhamos a compreender que não podemos pedir assistência espiritual a um trator de esteira, não podemos pedir socorro a determinados engenhos que hoje nos servem como recursos de pesquisas em pleno firmamento, nós precisamos desses valores de uns para com os outros.
Quando nos voltarmos para o sentimento, para o coração, acreditamos que tanto a violência, como a corrida às armas para defesa pessoal decrescerão ao ponto mínimo e vamos extinguindo isso, pouco a pouco, à medida que crescemos em manifestações de amor, reciprocamente. (
Entrevista feita em junho de 1980 por Marlene R. S. Nobre, transcrita no livro de sua autoria "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita")

Perguntamos a Chico Xavier, em Uberaba, qual seria a explicação para o problema do nanismo.

Chico Xavier:
Ele afirmou que a pessoa encarna sob essa condição, basicamente por duas razões: a primeira delas, a mais freqüente, porque praticou o suicídio em outra existência e a segunda por ter abusado da beleza física, causando a infelicidade de outras pessoas.
O nanismo está particularmente ligado ao suicídio por precipitação de grandes alturas. O anão revoltado, segundo explicou-nos Chico, em geral é o suicida de outra existência que não se conforma de não ter morrido, porque constatou que a vida é uma fatalidade e, mesmo desejando, não conseguiu extingui-la.
Chico afirmou que o corpo espiritual sofre, com esse tipo de morte, lesões que vão interferir no próximo corpo, prejudicando particularmente a produção de hormônios, daí a formação do corpo anão, e as diversas formas de nanismo, mais ou menos graves, segundo o comprometimento do espírito.
Ele disse ainda que conhece mães e pais maravilhosos que têm aceitado a prova com coragem e amparado os filhos anões com muito carinho e dedicação. Reconhece que a explicação espírita através da lei de causa e efeito e das encarnações sucessivas contribui bastante para a resignação perante a prova. Suas palavras são de estímulo e encorajamento aos pais e portadores de nanismo para que não se revoltem e aceitem esse estágio na Terra como um valioso aprendizado para o espírito imortal.
(Esse texto, escrito pela Dra. Marlene Rossi Severino Nobre, foi extraído do livro de sua autoria Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita)

"No dia 23 de janeiro de 1981, conversávamos com Chico Xavier, em sua residência, sobre mediunidade, tema que sempre nos fascinou.
Na ocasião, adentraram a casa dois visitantes dos Estados Unidos da América, acompanhados de Eurípedes Tahan Vieira, seu médico particular e amigo de longa data. Donald, um dos visitantes, pergunta-lhe: Em sua opinião a que veio Jesus Cristo?E quanto à sua morte na cruz?

Chico Xavier:
- Jesus nos ofereceu um sistema de vida. Aprendemos com ele o perdão. Não me consta que sábios ilustres, como Sócrates e Platão, tenham atendido algum mendigo, embora, com o devido respeito que merecem, tenham sido criaturas que forneceram vôos ao pensamento humano.
Também quanto ao bem do próximo, tivemos no ensino do Samaritano uma aula sobre a caridade. Jesus veio até nós para ensinar que o amor é o caminho para uma vida abundante.

Foi sua assinatura - concluiu o médium - como se ele estivesse assinando uma escritura, para lhe dar a maior autenticidade. (
Testemunha ocular descrevemos o fato para estudo e meditação... "Do livro "Aprendendo com Chico Xavier - Um exemplo de vida", escrito por Paulo Severino Rossi.)

O filme Kramer x Kramer questiona o problema da paternidade e da maternidade a partir da separação de um casal e da educação resultante dessa união.
Você acha que a Jurisprudência deveria introduzir novos critérios nas questões da família e permitir ao pai, em maior número de casos, ficar com a guarda do filho?

Chico Xavier:
- Nós que lidamos com o assunto de reencarnação, somos compelidos a entender que no espírito feminino ou da criatura que atravessou larga faixa de séculos no campo da feminilidade, o amor está plasmado para a criatividade perante a vida.
Por enquanto, eu não posso conceber que no espírito de masculinidade haja recursos suficientes para que a criação dos filhos ou a condução da criança, em si, encontre um campo bastante fortalecido para que a criatura se desenvolva em nosso meio terrestre. Creio que seja uma inversão de valores.
Não posso entender muito bem esta parte, pelo menos para os próximos anos, porque então teríamos de educar a mulher para ter as atividades do homem e educar o homem para ter as atividades da mulher o que seria um contra-senso, sobretudo se fôssemos exigir isso de um momento para outro.
Entrevista feita pela Dra. Marlene Rossi Severino Nobre, Do livro de sua autoria "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita."

Como devemos entender a expressão "almas gêmeas" dentro da conceituação de que os espíritos não têm sexo?

Chico Xavier:
- Diz "O Livro dos Espíritos" que os espíritos não possuem sexo como entendemos na Terra, mas percebamos "como entendemos", de vez que, do ponto de vista da comunhão das criaturas, cada qual no corpo ou fora do corpo tem o magnetismo que se lhe faz peculiar.
A saudade de alguém é a fome do magnetismo desse alguém, razão pela qual o amor é uma lei para nós todos, das pessoas umas com as outras no curso do tempo e na construção dos ideais que lhes são comuns.

Entrevista feita pelo Sr. Fernando Worm, janeiro de 1977, Do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita"

A caravana pára frente a uma palhoça num bairro pobre de Uberaba. Uma mulher grisalha acerca-se do médium à saída do carro: "Chico, meu neto está pra morrer. Que é que eu faço?"

Chico Xavier:
- Minha irmã, a prece de uma avó por um neto necessitado arromba as portas do céu! Vamos orar.

Texto de Sr. Fernando Worm, janeiro de 1977, Do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita"

Um grupo de pessoas do bairro logo se forma na calçada dele adiantando-se uma mulher ainda jovem em visível crise nervosa:
"Chico, estou com espírito ruim encostado em mim, tira ele de mim".

Chico Xavier:
Uai, gente, para que tirar o Espírito? Vamos evangelizar-nos todos juntos, encarnados e desencarnados.
Texto de Sr. Fernando Worm, janeiro de 1977, Do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita"

Uma recém-casada, alta e magra, queixa-se de que o marido se enfureceu e ficou violento:

Chico Xavier:
- A caridade quebra a violência. Minha filha, a harmonia muitas vezes é fruto da caridade. (Texto de Sr. Fernando Worm, janeiro de 1977, Do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita"

Acredita você na existência de cidades em Marte, na base de matéria diferente daquela que conhecemos na Terra?

Chico Xavier:

- Devo informar à "Folha Espírita" que antes de psicografarmos o livro "Nosso Lar", de nosso amigo André Luiz, a nossa idéia sobre qualquer cidade em outros planetas se fixava em quadros que seriam absolutamente iguais aos do nosso Plano Físico, na Terra.
Quando os amigos espirituais se reportavam a cidades em outros mundos, não possuía, de minha parte, outros padrões comparativos se não os que identificava neste mundo mesmo.
Entretanto, em 1943, quando iniciei a psicografia dos livros de André Luiz, passei a reconhecer que a matéria se caracterizava por diferentes gradações e compreendi que, em torno de paisagens cósmicas, sejam elas quais sejam, podem existir cidades e vida comunitária, em condições que nos escapam, por enquanto, ao conhecimento condicionado de espíritos temporariamente encarnados na existência física. (
Entrevista dada à Dra. Marlene Rossi Severino Nobre, em setembro de 1976, contida no livro de sua autoria "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita". )


Comentou-se que o senhor estaria restringindo o número de consultas diárias por motivos de saúde. É verdade?

Chico Xavier:
- Pelo contrário. O médico acha que devo restringir as consultas, que só devo atender uma média diária de 50 pessoas, não por não estar bem, mas por ter 74 anos. Diminuí as consultas para continuar bem.
De uma entrevista dada aos repórteres Luiz Caio e Luizinho Coruja, publicada na revista Contigo/Superstar, São Paulo, SP, n. 443, 19/3/1984, transcrita no ANUÁRIO ESPÍRITA 1985

Suas palavras de solidariedade sempre giram em torno da missão que cada ser humano tem. Qual é a sua missão?
Chico Xavier:
- Um capim tem uma missão, alimentar o boi. Minha missão é como a do capim ou de qualquer outra plantinha sem nome que exista por aí. Precisamos viver honradamente e fazer tudo o que pudermos para ajudar o próximo a superar suas dificuldades.

De uma entrevista dada aos repórteres Luiz Caio e Luizinho Coruja, publicada na revista Contigo/Superstar, São Paulo, SP, n. 443, 19/3/1984, transcrita no ANUÁRIO ESPÍRITA 1985

Mesmo sem quase nunca sair de Uberaba, o senhor vem acompanhando a situação do mundo atual e, particularmente, os muitos problemas brasileiros. Como analisaria tudo isso?

Chico Xavier:
- O mundo que hoje se nos apresenta parece totalmente desorientado. As pessoas perderam o interesse por tudo. Até pela própria existência!
Os jovens não sabem que caminho seguir. Além disso, são perseguidos pelas drogas. Quanto ao Brasil, pode parecer estranho o que vou dizer, mas, à medida que nossa comunidade se enriqueceu materialmente, uma nuvem de incompreensão nos cobriu a todos. Quando o País era paupérrimo, principalmente na região que nasci centro-sertão de Minas Gerais, nós éramos obrigados a trabalhar muito dos 10 anos em diante. A escola era algo de sacrifício, de privilégio. Estudávamos quando e se tivéssemos tempo, após colher feijão, socar arroz e milho, carpir a terra, alimentar os animais.
Dávamos um valor especial àquilo que conseguíamos através de nosso suor, de nosso esforço. A medida que fomos nos desenvolvendo, nos industrializando, e as coisas foram ficando mais fáceis, fomos também perdendo a noção do valor delas.
Nós enriquecemos materialmente e perdemos nossa riqueza espiritual. Mas acredito que isso seja uma coisa transitória, pois sei que ao final teremos todo o amparo da fé cristã que nos livrará das ameaças. Creio na vitória de Jesus Cristo. (
Superstar, São Paulo, SP, n. 443, 19/3/1984, transcrita no ANUÁRIO ESPÍRITA 1985 De uma entrevista dada aos repórteres Luiz Caio e Luizinho Coruja,publicada na revista Contigo)


Os avanços da medicina mostram o caminho da manipulação genética para acabar com as doenças. O Espiritismo afirma que os desequilíbrios do Espírito e, conseqüentemente, do perispírito, levam às moléstias. Como ficamos?

Chico Xavier:
- A medicina, quando expressa uma afirmativa, é verdadeira. Pode o assunto estar entrosado às necessidades da vida mental ou espiritual. Não podemos desprestigiar a medicina, porque, quando ela fala, está baseada em fatos e experiências.
Entrevista concedida à Marlene Rossi Severino Nobre, publicada na Folha Espírita, São Paulo, SP, em Fevereiro de 1993.

Hoje se instalou uma nova Constituição no país. Como a vemos?

Chico Xavier:
- Os técnicos afirmam em artigos bem fundamentados para os nossos jornais que a Constituição está muito bem elaborada.
Formulamos votos que essa Constituição seja um instrumento de paz e felicidade a todos os brasileiros, com os nossos agradecimentos àqueles que formularam esse novo instrumento de leis.
Que todos recebamos com boa vontade o documento que se fez e regerá a nossa existência, e peçamos ao Senhor que nos dê força, saúde e boa vontade para procurar a alegria do trabalho, porque o trabalho já é uma concessão de Deus. Vamos esperar que Ele nos dê o que necessitamos.

Entrevista concedida ao Dr. Rossi, no Centro Espírita União, em São Paulo, SP,
durante o XIV Encontro da Boa Vontade, na noite de 05/10/1988. Transcrito da Folha Espírita, S.Paulo, novembro de 1988.

Na China já está sendo utilizado um medicamento que provoca o aborto, quando ingerido, nas primeiras semanas, sem necessidade de intervenção cirúrgica. O que você pensa disso?

Chico Xavier:
- Sempre que faço qualquer referência ao aborto, lembro-me da utilidade do anticoncepcional como elemento de socorro às necessidades do casal.
As duas criaturas querem a união, mas não estão em condições de realizarem esse ideal, nesse caso, a anticoncepção viria em seu auxílio.
Se minha mãe, quando me esperava, repleta de doenças quisesse me expulsar, não sei o que seria de mim.
Se há o anticoncepcional, por que teremos de promover a morte de criaturas nascituras ou em formação?
Com uma terra tão imensa para ser lavrada e aproveitada, é impossível aplaudir o aborto. Somente podemos entender o aborto terapêutico quando a vida materna está ameaçada.
Lembro-me de minha mãe, sofrendo por minha causa e não posso aplaudir.

Entrevista concedida ao Dr. Rossi, no Centro Espírita União, em São Paulo, SP,
durante o XIV Encontro da Boa Vontade, na noite de 05/10/1988. Transcrito da Folha Espírita, S.Paulo, novembro de 1988.

Aris-Match publicou que um autor que há 10 anos criticou a reencarnação, agora publica outro falando a favor. Afirmou que os médiuns eram falhos, mas que agora é possível ouvir em equipamentos eletrônicos de grande sensibilidade a comunicação dos Espíritos e não há como negar isso.


Chico Xavier:
- Vemos com muita alegria e com muita esperança de que esse evento possa ser aperfeiçoado e assim podermos contar com a eletrônica para suplementar todas as formas de comunicação com o mundo espiritual. A palavra do autor é significativa e devemos aguardar com interesse e carinho os estudos que ele fez. O conhecimento da reencarnação vai ganhando inteligências através da parapsicologia. E essa vitória do autor pertence à coletividade humana porque é a palavra de um homem resguardada pela fé e pela inteligência.
Vamos esperar que a reencarnação seja pesquisada cada vez mais para que cheguemos às convicções espíritas cristãs e para que não restem dúvidas a respeito.
Nós, espíritas, enfrentamos uma vereda espinhosa para subir determinado monte, o monte da fé, sem esperar qualquer conforto e temos a reencarnação, como ponto pacífico. Mas, atualmente, através da ciência, está se construindo uma avenida para chegar aos mesmos resultados a que nós chegamos. Esperemos que o autor não esmoreça e que outros autores apareçam e venham a formular conosco a realidade da reencarnação, que é incontestável.

Entrevista concedida ao Dr. Rossi, no Centro Espírita União, em São Paulo, SP,
durante o XIV Encontro da Boa Vontade, na noite
de 05/10/1988. Transcrito da Folha Espírita, S.Paulo, novembro de 1988.

Seremos Pátria do Evangelho na Grande Renovação?

Chico Xavier:
- Quanto à conceituação de Pátria do Evangelho, nós somos compelidos a pensar no futuro, quando teremos, talvez, necessidade de exemplificarmos, até com o sacrifício, o Evangelho que nos foi confiado pelo Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sem nos esquecermos que, do ponto de vista evangélico, até Ele foi atingido pelo sacrifício extremo, para dar-nos essa alvorada maravilhosa, que a doutrina de luz que nós abraçamos e que nos une a todos num abraço só, num só coração.
Chegada essa época, naturalmente, seremos compelidos a testemunhos e a exemplificações. E, agora, antes das lutas maiores que o porvir nos reserva, serão horas difíceis para nós. Como filhos da Pátria do Evangelho, devemos exemplificar e esperar. (
Trecho de entrevista feita pela Dra. Marlene Rossi Severino Nobre, em fevereiro de 1993, extraído do livro de sua autoria Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita.)

Com tanta violência e corrupção em nosso país, os benfeitores acreditam que o Brasil seja "O coração do mundo e a pátria do Evangelho?"

Chico Xavier:
- Essa pergunta tem sido assunto de muitos diálogos nossos com os companheiros de nossa casa. O nosso Emmanuel é de opinião que dentro do mundo turbulento, com a incompreensão comandando tantos corações, tantos milhões de pessoas, não pode ser motivo de dúvidas para nós que o Brasil é o coração do mundo.
Quando nós nos lembramos que, com todas as deformidades que assinalam a nossa época, com todas as dificuldades de ordem material, nossas mesas têm sido amparadas por benfeitores espirituais. O pão que nós pedimos na oração dominical é modificado por bênçãos de toda a espécie.
Trecho de entrevista feita pela Dra. Marlene Rossi Severino Nobre,
em fevereiro de 1993, extraído do livro de sua autoria


Rafael Vanussi (Criança) - Chico, e a relação pais e filhos? Como a gente deve se comportar? E como nossos coroas devem nos tratar?
Chico Xavier:
- Uma criança de 6 a 8 anos, ela não tem recursos para fazer opções. Ela precisa de alguém que a dirija no caminho da vida e isso é uma tarefa dos pais, e das mães em particular. Porque sem os pais e sem as mães, os professores, por eméritos que eles sejam, não podem realizar a transformação espiritual do espírito que a criança representa em si.
E se a criança já nasce numa condição de necessidade, como um pássaro recém-nato que aprende pouco a pouco a voar, é uma descaridade deixarmos nossos filhos em plena ignorância da responsabilidade de viver, da beleza do amor e da felicidade de sermos unidos para o bem. A criança é um adulto que está numa fantasia transitória. Até mais ou menos aos 14, 15 anos, uma criança não tem discernimento para fazer opções quando ao caminho que lhes cabe seguir.
Daí a tragédia dos toxicômanos que começam cedo, seduzidos por criaturas inescrupulosas que se fazem traficantes desses venenos. A falta de pais vigilantes criou os delinqüentes infantis.
Momentos principais do Especial com Chico Xavier do Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes,São Paulo, SP, levado ao vídeo na noite de 25/12/1987.

Ney Gonçalves Dias - Nós entramos na casa das pessoas, no ouvido das pessoas, nos olhos das pessoas. A imprensa, o rádio, a televisão modificam opiniões das pessoas, estabelecem campanhas, modificam comportamentos. Como é que é visto este trabalho importante da imprensa, do rádio, da televisão pelo Mundo Espiritual?

Chico Xavier:
- Na Inglaterra há uma lei que consideramos de muita importância. A própria imprensa, através da cúpula formada pelos homens de responsabilidade que a representam, decidiu formar uma associação de censura, de tudo que tivesse de ser lançado ao público pelos mais novos, pelos jornalistas, pelos radialistas, por todos aqueles que estivessem começando a tarefa de se comunicar com o público. No Brasil, a minha opinião pessoal, sem qualquer crítica, mas absolutamente sem qualquer crítica, eu creio que os excessos na televisão, nos jornais e nas revistas são de molde a falsear os sentimentos e pensamentos de muita gente. (Momentos principais do Especial com Chico Xavier do Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes, São Paulo, SP, levado ao vídeo na noite de 25/12/1987.)

É verdade que a homeopatia age no perispírito (corpo espiritual)?
Chico Xavier:
- O medicamento homeopático atua energeticamente e não quimicamente, ou seja, sua ação terapêutica vai se dar no plano dinâmico ou energético do corpo humano, que se localiza do perispírito.
A medicação estimula energeticamente o perispírito, que por ressonância vibratória equilibra as disfunções existentes, isto é, o remédio exerce duas funções enquanto atua. Por isso a homeopatia além de tratar doenças físicas, atua também no tratamento dos desequilíbrios emocionais e mentais, promovendo, então, o reequilíbrio físico-espiritual.
A explicação dada por Francisco Cândido Xavier, na verdade, confirma mensagem trazida pelo próprio Samuel Hahnemann (1755-1843), criador da homeopatia, através da médium Costel, que nenhum estudo possuía sobre a nova ciência. O texto foi psicografado na Sociedade Espírita de Paris, em 13 de março de 1863, e está inserido na "Revista Espírita", de Allan Kardec, de agosto do mesmo ano. Acompanhemos o trecho inicial:

"Minha filha, venho dar um ensinamento médico aos espíritas. Aqui a Astronomia e a Filosofia têm eloqüentes intérpretes; a moral conta tanto escritores quanto médicos. Por que a medicina, em seu lado prático e fisiológico, seria negligenciada?
Fui o criador da renovação médica, que hoje penetra nas fileiras dos sectários da medicina antiga; ligados contra a homeopatia, em vão lhe criaram diques sem número, em vão lhe gritaram: 'Não irás mais longe!'...
A jovem medicina, triunfante, transpôs todos os obstáculos. O Espiritismo lhe será poderoso auxiliar; graças a ele, ela abandonará a tradição materialista, que por tanto tempo lhe retardou o desenvolvimento. O estudo médico está inteiramente ligado à pesquisa das causas e efeitos espiritualistas; ela disseca os corpos e deve, também, analisar a alma. (
Extraído do Boletim Semanal editado pelo Lar Fabiano de Cristo - SEI - Serviço Espírita de Informações, de Sábado, 26/7/2003, n. 1843)


Apesar das críticas...

Chico Xavier:
- Apesar das críticas que recebi a vida inteira, o que me animou a continuar foi saber que Jesus me aceita como sou... Se eu fosse escutar os espíritas, eu não teria feito nada. Sim, porquanto as críticas mais contundentes que me foram e ainda me são endereçadas, sempre partiram dos companheiros - principalmente daqueles com os quais eu nunca pude estar. (Do livro Orações de Chico Xavier, escrito por Carlos A. Baccelli Juarez Soares)


Um outro assunto que causa muita polêmica, muita discussão, é o problema da liberação do sexo. Eu gostaria que o senhor nos dissesse o que pensa a respeito desse assunto.


Chico Xavier:
- A liberação do sexo é um problema muito difícil de se apoiar, porque o homem tem deveres para sua companheira e a companheira dele tem também os seus compromissos para com ele. A liberação do sexo é mais um motivo para que a irresponsabilidade alastre no mundo e crie a infelicidade de muitos lares, aumentando quase que pavorosamente o número dos desquites nos tribunais.( Momentos principais do Especial com Chico Xavier do Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes, São Paulo, SP, levado ao vídeo na noite de 25/12/1987 Moacyr Franco )

A ciência cada vez mais se dedica à inseminação artificial. Eu queria saber do senhor qual é ponto de vista da espiritualidade sobre os filhos de laboratório?

Chico Xavier:
- Em diversos países, notadamente da Europa, a inseminação artificial se tornou algo de comum, mas cremos que é um assunto que se deve atribuir àqueles que se encontram descompromissados e sem nenhum vínculo para com deveres que eles não tenham.
Sabemos de senhoras de determinado país da Europa, que tendo altos vencimentos, porque são donas de uma inteligência invulgar, essas senhoras, que não se casaram, podendo pagar várias empregadas para tomar conta de um filho, acharam de bom alvitre escolherem o material que lhes pareceu mais adequado à vida delas. De modo que ficamos na expectativa sobre o assunto, num país como o nosso, em que estamos interessados em limitar os números crescentes do fator demográfico. (
Momentos principais do Especial com Chico Xavier do Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes, São Paulo, SP, levado ao vídeo na noite de 25/12/1987.


Vannucci - Meu querido Chico, a primeira pergunta é:
Uma palavra de esperança para o nosso país que atravessa uma crise tão difícil, problemas sociais, violências.

Chico Xavier:
- Certa vez Léon Denis foi questionado com respeito ao futuro do Espiritismo, e ele então disse: "A Doutrina será aquilo que os homens fizerem dela."
E nós poderemos parafrasear Léon Denis dizendo que o Brasil será a grandeza ou a decadência que os homens, principalmente os dirigentes da Nação, dela fizerem. (
Momentos principais do Especial com Chico Xavier do Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes; São Paulo, SP, levado ao vídeo na noite de 25/12/1987.

Benedito di Paula - Meu querido amigo Chico Xavier, há mais de 60 anos você se dedica a um trabalho mediúnico maravilhoso! Qual o significado disso tudo e o que isso representa para você?


Chico Xavier:
- Um amigo espiritual em se comunicando aqui, há poucos dias, numa página que eu considero muito interessante, contou que um amigo espiritual perguntou a um Mentor das esferas mais altas, o que significavam 60 anos de trabalho espiritual ininterrupto. E o Mentor respondeu que, para Jesus, significaria 6 minutos. (Momentos principais do Especial com Chico Xavier do Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes, São Paulo, SP, levado ao vídeo na noite de 25/12/1987

Ronnie Von - Eu quero de você, Chico, uma resposta a um angustiante dilema que nos cerca hoje - o terrível flagelo da AIDS. Como a espiritualidade vê esse mal?

Chico Xavier:
- Na condição de uma moléstia semelhante à varíola, quando a varíola despovoava cidades e efetuava milhares de desencarnações, até que a vacina pudesse debelar o mal que ela causava.
Também na AIDS temos muitas interpretações, inclusive a de que essa moléstia terá aparecido para punir as criaturas humanas. Mas não pensamos assim, porque a misericórdia de Deus paira no mesmo nível da justiça.
Estamos com um problema muito sério e, naturalmente, exige atenção dos cientistas que se dedicam à pesquisa e à realização de melhores dias para a humanidade.
( Momentos principais do Especial com Chico Xavier do Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes)

- Luciano do Vale -O aborto, Chico, é uma questão que merece o seu esclarecimento. Eu gostaria muito, mas muito de ouvir.

Chico Xavier:
- Um crime que é cometido, entre as quatro paredes de uma casa, com absoluta impunidade e com absoluta impossibilidade da vítima para se defender. O aborto é uma falta grave

Momentos principais do Especial com Chico Xavier do Programa "Terceira Visão", da Rede Bandeirantes, São Paulo, SP, levado ao vídeo na noite de 25/12/1987.Helena de Grammont - outubro de 1991

Há três anos Chico Xavier não recebia repórter para uma entrevista. Neste fim de semana, ele quebrou o silêncio e com a voz muito fraca deu uma lição de vida.

Chico Xavier:
- Eu posso estar com o corpo doente, porque estou em tratamento de uma labirintite muito difícil. Mas, intimamente, eu me sinto como se tivesse 20 anos. É uma doença que eu falo assim: Você pode trazer quedas e machucar, mas você machuca só o corpo. Por dentro, eu sou feliz, pareço até melhor.
Nós nos sentimos cada vez melhor no Brasil. Muita gente acha que o Brasil está em calamidade. Eu não creio, porque nossas mesas são ricas. Nós podemos repartir o pão, não é verdade?
Palavras como estas: "Amai-vos uns aos outros", "perdoar 70 vezes 7 vezes". Olha que palavras! Ressoam ainda hoje. Meu Deus, a vida é tão bela! Uma folha de qualquer planta, vista com os olhos da fé, é uma página tão bela quanto a de Shakespeare.
Amar sem esperar ser amado e sem aguardar recompensa alguma. Amar sempre!
(Extraído do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 Anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre Márcia Elizabeth - julho de 1974)

Do ponto de vista espiritual como definir o lar e a família?

Chico Xavier:

Outra afirmativa de nosso Emmanuel é de que o lar é uma benção de Deus para os homens e de que a família é uma criação dos homens onde eles podem servir a Deus, desde que aceitem com amor o sacrifício e a renúncia, o trabalho e o serviço por alicerces de nossa felicidade em comum.
(Extraído do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 Anos da Folha Espírita,
escrito por Marlene R. S. Nobre Márcia Elizabeth - julho de 1974 )

Qual o mecanismo ideal para atingir a paz e a segurança entre os familiares vinculados à mesma casa e ao mesmo nome?

Chico Xavier:
- Cremos que este problema será perfeitamente solucionado quando esquecermos a afeição possessiva, a idéia de que somos pertences uns dos outros, quando nos respeitarmos profundamente, cada qual procurando trabalhar e servir, mostrando sua própria habilitação, o rendimento de serviço dentro da vocação com a qual nasceu, dentro do lar, respeitando-se uns aos outros.
Desse modo, com o respeito recíproco e o amor que liberta, o amor que não escraviza, o problema da paz em família estará perfeitamente assegurado na solução devida.
(extraído do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 Anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre Márcia Elizabeth - julho de 1974)

Por que motivo os casais que noivavam apaixonadamente experimentam a diminuição do interesse afetivo nas relações recíprocas, após o nascimento dos filhos?

Chico Xavier:
- Grande número dos enlaces na Terra obedecem a determinação de resgate escolhidas pelos próprios cônjuges, antes do renascimento no berço físico e aqueles amigos que serão filhos do casal, muitas vezes transformam, ou melhor, omitem as dificuldades prováveis do casamento para que os cônjuges se aproximem segundo os preceitos das leis divinas e formem o lar, transformando determinadas dificuldades em motivos de maior amor, de compreensão maior.
O namoro, o noivado, muitas vezes, estão presididos pelos espíritos familiares que serão os filhos do casal. Quando esses mesmos espíritos se transformam em nossos filhos parece que há diminuição de amor, mas isso não acontece. Existe, sim, a poda da paixão, no capítulo das afeições possessivas que nós devemos evitar. (
Extraído do livro "Lições de Sabedoria -Chico Xavier nos 23 Anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre Márcia Elizabeth - julho de 1974 )

Chico Xavier, os espíritos amigos apresentam algum ponto de vista sobre o divórcio no Brasil?

Chico Xavier:
- Allan Kardec no capítulo 22 de "O Evangelho Segundo o Espiritismo" assevera que o divórcio é uma lei humana que veio consagrar determinada situação já existente entre os cônjuges.
Do ponto de vista humano naturalmente que seria crueldade fugirmos da possibilidade do divórcio em determinadas situações da vida e em determinados setores de nossos problemas, quando estamos certos de que as organizações bancárias do mundo nos concedem reformas e determinados prazos para resgate de certas dívidas.
Mas, devemos estar igualmente conscientes de nossa situação no Brasil e podemos perfeitamente reconhecer que ainda estamos imaturos para receber o divórcio da magnanimidade da nossa Justiça porque somos um pouco jovem. Precisamos habilitar a consciência coletiva para uma conquista de tamanha expressão na vida da criatura e na vida planetária.
(Extraído do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 Anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. Nobre Márcia Elizabeth - julho de 1974 )

O casal tem o direito de programar o número de filhos em sua própria casa?

Chico Xavier:
- Diz Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos" que o homem deve corrigir tudo aquilo que possa ser contrário à natureza. Hoje, dividem-se as opiniões, mas à frente da problemática da nossa civilização, à frente dos impositivos da educação e da assistência à família, nós, pessoalmente, acreditamos que o casal tem direito de pedir a Deus inspiração, de rogar a Jesus as sugestões necessárias para que não venha a cair em compromissos nos quais os cônjuges permaneçam frustrados.
Somos filho de família numerosa. Pessoalmente sou descendente de uma família de 15 irmãos, mas, de 20 anos para cá, a vida no planeta tem sofrido muitas alterações e devemos estudar o planejamento com muito respeito à vida e conseqüentemente a Deus, em nossos deveres uns pra com os outros, e não cairmos em qualquer calamidade por omissão ou deserção dos nossos deveres. (
Extraído do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 Anos da Folha Espírita, escrito por Marlene R. S. NobreFernando Worm - abril de 1977) -

O que lhe ocorre dizer às pessoas que pedem a Deus para morrer por não encontrarem significado para viver, por terem perdido as esperanças de auto-realização?

Chico Xavier:
- Cremos sinceramente que devemos pedir a Deus, conforme o ensinamento de nossos instrutores, não o afastamento de nossas provas, mas sim a força necessária para suportá-las proveitosamente. Não nos adianta solicitar a morte prematura, a pretexto de sermos fracos para carregar os benefícios do sofrimento, porque deixar o trabalho, antes de completá-lo, nada mais seria que agravar os nossos problemas próprios, porquanto, chegaremos sempre e inevitavelmente à convicção de que a morte não existe como sendo o fim de nossas preocupações e responsabilidade. (Extraído do livro "Lições de Sabedoria - Chico Xavier nos 23 Anos da Folha Espírita,escrito por Marlene R. S. Nobre)



– Como você vê a Transcomunicação Instrumental?
Chico Xavier:
– A nós outros, os que estamos com atividade constante na Doutrina Espírita, o resultado da Transcomunicação na Europa e em outros países é o transcendente trazido à realidade de nossas vidas. E todas as pessoas cultas ou de qualquer expressão religiosa creio que pensarão como nós.
Transcrição Parcial da entrevista concedida à TV Manchete, de Uberaba, Minas, em 11 de maio de 1992 - Anuário Espírita - 1999- Tv Manchete