O QUE O SOFRIMENTO PODE NOS OFERECER?
Os espíritos benfeitores afirmam que o sofrimento está presente na vida de todos aqueles que vivem neste mundo e que esta experiência pode ter suas causas em fatos da vida presente ou passada.
É comum o sentimento de revolta contra o Criador, em especial quando não percebemos com clareza as causas de algumas aflições atuais. Porém, ao aceitarmos que não existe efeito sem causa, entendemos também que estas causas, por mais obscuras que pareçam, possuem uma explicação mesmo em vidas anteriores.
Assim, em sendo artífices de nossos próprios infortúnios, na maioria das vezes, cabe-nos perceber que aprendizado Divino podemos extrair das vivências que passamos.
Percebamos, também, que muitas das vezes o sofrimento envolvido se repete na sua essência no decorrer de nossas vidas. Explico melhor: uma pessoa impaciente, por exemplo, é levada a passar por provas que a principal virtude para a superação será a paciência. E ela será testada quantas vezes for necessário para que exercite essa qualidade. Talvez uma das pistas para descubrir nossas principais limitações seja a análise criteriosa das razões de nossos transtornos. O sofrimento é importante instrumento para a transformação moral, contudo poucos estão abertos às novas lições no momento em que a dificuldade se apresenta.
Hoje, surpreendido por queixas relacionadas às situações difíceis, permito o desabafo e, tão logo possível, questiono se houve algum aprendizado a partir da situação negativa. As respostas, não raras vezes, desviam para indagações envolvidas em desespero: Mas, como posso tirar algo de bom diante da perda de um ente querido? Como me transformar moralmente a partir de um câncer? O que tenho a acrescentar em mim com o fim de meu casamento?
Para confirmar que é possível crescer pelo instrumento da dor, contarei um fato pessoal que trouxe mudanças significativas em mim e em minha família.
Foi em uma manhã de domingo que iniciou, sem dúvida, a maior prova enfrentada pela minha família até aquela data, 07/01/2001. Por volta das 13 horas, eu e meus familiares recebemos a notícia do desencarne de minha irmã caçula, Simone.
Aos 22 anos, em pleno vigor físico e intelectual, regressou à pátria espiritual, vítima de um acidente automotivo. Deixou pai, mãe e três irmãos, além de seu namorado que sobreviveu ao acidente.
À exceção de meus pais, estávamos todos em locais diferentes ao saber do ocorrido. Quando minha esposa me contou, com cuidado, o que havia acontecido, fui envolvido em uma sensação de que tudo não passava de um sonho, ou melhor, de um pesadelo. Não podia acreditar! Tristeza, choro e desespero, reações comuns e esperadas em experiências como essa, foram vividas por mim nos primeiros minutos da notícia fatídica.
Eis que surge a intuição de fazer uma prece. Após isso, a sensação foi clara de que fui anestesiado. Senti-me forte e pronto para ajudar. Parecia que não era mais parte envolvida no problema. Naquele momento, retomei a consciência do aprendizado espírita em minha vida. Até então, este arcabouço teórico estava inacessível. Surpreendentemente reencontrei o equilíbrio e as forças. Era a hora de aplicar o conhecimento espírita.
Sabia que a falta de preparo espiritual, em especial, de meus pais, exigiria de mim uma atenção maior. Ficaram todos bastante abalados, inclusive meus irmãos. Comecei então a mobilizar este pequeno núcleo para a importância de restabelecer o equilíbrio. A justificativa mais convincente para a colaboração de todos era a de que a união familiar poderia auxiliar Simone na readaptação a vida espiritual.
Felizmente a reação positiva iniciou-se nos primeiros dias da partida deste ente querido. Ainda no velório, presenciamos um comportamento incomum para a sociedade ocidental. Respeitada a opção de meus pais de não participarem da cerimônia, o encontro foi marcado por preces, cantos, homenagens e muita inspiração Divina. Senti uma forte emoção ao pressentir a presença de muitos espíritos amigos. Ainda hoje afirmo que consegui enxergar beleza naquele dia,o que gera espanto para algumas pessoas.
O povo da pequena cidade do Maranhão ficou admirado com a resposta incomum para este tipo de perda. Passada esta fase, optamos por buscar o aprendizado da lição. Aos poucos, fui repassando alguns ensinamentos espíritas a meus pais que, totalmente abertos, introduziam as novas lições ao seu dia a dia. Na mesma intensidade, meus irmãos também buscavam o conhecimento Cristão. Para nossa querida Simone, testemunhar a transformação moral de sua família, a partir de uma situação em que ela era a principal personagem, tornou-se motivo de muita alegria. Sua partida havia se tornado um marco. Saber que todos conseguiram extrair lições preciosas para suas vidas, devia ser sem dúvida um motivo de muito orgulho.
Com aquela dor, nós nos tornamos mais amorosos uns com os outros, passamos a nos preocupar mais com o campo da espiritualidade, a criar mais ocasiões especiais em família, a apressar o perdão às ofensas, a focar mais nosso olhar para aqueles que sofrem, entre outros. Saímos fortalecidos e vitoriosos diante da morte e certos de que o amor nos liga a nossos entes queridos já presentes no plano espiritual.
Três meses depois daquele desencarne, fomos acometidos novamente pelo desencarne de vovô, aos 91 anos de idade. Unidos com equilíbrio e muita força em Deus, superamos tal desafio com mais facilidade e somamos mais aprendizado em nossas vidas. Hoje, depois de pouco mais de 5 anos,observo no seio familiar uma bonita fé cristã.
Meu pai e minha mãe, embora em outras experiências difíceis no período, problema cardíaco e câncer, respectivamente, nunca permitiram que a ausência física de nossa caçulinha se transformasse em tristeza. Estamos certos que ela e vovô estão muito bem. Dispostos a continuar os projetos de nossas vidas, só nos restou dizer que vencemos, crescemos e somos imensamente gratos a Deus e aos espíritos pelo apoio que nos foi dado.
Atualmente, sempre que me vejo envolvido em uma prova, penso, inicialmente, que sou capaz de superá-la e procuro compreender qual ensinamento divino está por trás da experiência. Procuro não desperdiçar mais a oportunidade.
E você, como tem agido diante das situações difíceis em que se vê envolvido? Aproveita delas para seu crescimento moral ou apenas sofre?
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